domingo, 8 de dezembro de 2013

GETÚLIO VARGAS - CAPÍTULO I




Getúlio Dornelles Vargas, nasceu em São Borja, Rio Grande do Sul, Brasil,em 19 de abril de 1882 e faleceu no Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1954,atribuindo-se como causa morte - "suicídio". Foi um advogado e político brasileiro, líder civil da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, depondo seu 13º e último presidente Washington Luís e impedindo a posse do presidente eleito em 1 de março de 1930, Júlio Prestes.
Foi presidente do Brasil em dois períodos. O primeiro de 15 anos ininterruptos, de 1930 até 1945, e que dividiu-se em 3 fases: de 1930 a 1934, como chefe do "Governo Provisório"; de 1934 até 1937 como presidente da república do Governo Constitucional, tendo sido eleito presidente da república pela Assembleia Nacional Constituinte de 1934; e de 1937 a 1945, como presidente-ditador, enquanto durou o Estado Novo, implantado após um golpe de estado.

No segundo período, em que foi eleito por voto direto, Getúlio governou o Brasil como presidente da república, por 3 anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando suicidou-se.
Getúlio era chamado pelos seus simpatizantes de "o pai dos pobres", frase bíblica (livro de Jó-29:16)1 e um dos títulos de São Vicente de Paula, e, título criado pelo seu Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, enfatizando o fato de Getúlio ter criado muitas das leis sociais e trabalhistas brasileiras.

FOTO DE GETÚLIO

GETÚLIO VARGAS - UM GRANDE HOMEM



Sobre ser acusado de "Pai dos Ricos", Getúlio disse, em discurso de 27 de agosto de 1950, em Recife:


Os meus adversários continuam a atirar-me, ao mesmo tempo, a pecha de “Pai dos Pobres” e “Pai dos Ricos”. Como homem público, entretanto, nunca fui faccioso ou extremado. Antes de mais nada procurei agir com justiça e realizar o bem comum. Ricos e pobres são igualmente brasileiros. Se aos primeiros, muitos dos quais estiveram à beira da insolvência que agravaria a situação das classes desfavorecidas e dos assalariados, abri oportunidades de reerguimento e facilitei o crédito, consolidando as bases da agricultura e da indústria, também não desamparei os trabalhadores. Defendi-os contra a ganância dos exploradores, e rompendo resistências que se levantaram à minha ação, iniciei, com firmeza e segurança, a legislação trabalhista no Brasil.197

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

CARTA PARA ANA



Feira de Santana, 12 de novembro de 2011.


Querida amiga, Ana,


Como é do seu conhecimento, comemoro o meu aniversário, e, já se passaram muitos anos, desde que nos conhecemos. Seria hoje um dia para falar de coisas boas, com musicalidade e poesia. Jurei que não falaria de coisas ruins, de maus presságios, agouros, bruxas e malversação, mas, quebrei a minha jura, por causa dos juros exorbitantes praticados pelos Bancos e demais instituições financeiras, em detrimento da população necessitada, dos consumidores inevitáveis deste mercado torpe que nos alimenta a peso de ouro, que não possuímos, mas pagamos o preço, e a maioria das vezes sucumbimos, embora o governo federal diga que a inflação é de 0,6 e conceda aumento salarial de 6% ao ano para os trabalhadores, enquanto os parlamentares se dão aumento de 70%, pra trabalharem de segunda à quarta, ou seja, três dias por semana, uns, na parte da tarde, e outros, pela manhã, num esforço hercúleo para não morrerem de tédio, em suas riquezas ilícitas, com 13º e 14º salários, além da ajuda paletó e outras benesses, engabelando todos nós. Pesquisando a minha árvore genealógica, descobri que tenho herança genética de Diogo Álvares Correia – o Caramuru, homem valente, que sobreviveu após um naufrágio e foi temido pelos índios antropófagos, daí o meu destemor. Pois é, minha amiga. Fico pasmo quando leio que nosso País é inviável porque perde para a corrupção R$ 85 bilhões de reais por ano; tem uma máquina burocrática que cresce mais do que o PIB e cobra 40% deste em impostos, mas não consegue zerar o déficit público, gerando energia elétrica pelo método mais barato do mundo e a entrega ao consumidor por um dos preços mais elevados do planeta, com a carga tributária mais injusta do mundo civilizado, batendo em nossa porta para cobrar a maioria das vezes o indevido. O nosso dinheiro aplicado em caderneta de poupança rende 0,6% ao mês, mas o nosso cartão de crédito nos cobra até 19,9% ao mês; o cheque especial 8,21% ao mês e 158,03% ao ano, uns, e outros, CET de 9,66% ao mês e 207, 080% ao ano, com juro mensal de 9, 030% e anual de 182,19%. É ou não é um assalto aos nossos parcos rendimentos do labor suado? É ou não é uma afronta ao nosso povo desprotegido, tutelado por leis injustas que só beneficia os poderosos, corruptos e corrompidos? Enquanto isto, todas as igrejas de todas as religiões são isentas de qualquer tributo, assim declarado pela Carta Magna, que ainda diz - “todos são iguais perante a lei”. No meu labor advocatício as decepções somam-se aos milhares. Juízes e Promotores se julgam deuses e nós, pobres mortais, submissos ao império dos incompetentes. Só temos direito ao “jus esperniandi”, porque a deusa vendada ficou surda e muda. Ainda hoje recebi uma intimação de um processo que tramita desde os idos de 1982, com o despacho brilhante de um Magistrado – “Diga a parte autora se tem interesse no andamento do feito”. Como se a postulação fosse um ato inócuo. Parece brincadeira. Como a Bela Adormecida, espera o judiciário pelo beijo ressuscitador, para acordar do pesadelo da inércia. Os demandantes morreram e o advogado se aposenta decepcionado, após 50 anos de longo estudo, escrevendo o que as Excelências não leem. Fez-me lembrar de um processo que encontrei devolvido pelo Egrégio Tribunal de Justiça, no ano de 1986, cujo ajuizamento se deu em 1876, para dirimir uma disputa indenizatória, envolvendo dois Carpinteiros, - um, o autor de uma engenhoca, que facilitava a confecção dos móveis, contudo, seu empreendimento lhe custou as ultimas reservas financeiras e para sobreviver tomou emprestado um valor em dinheiro na mão de um colega de profissão, dando em garantia o depósito da bendita máquina, que não poderia ser manipulada enquanto o devedor estivesse adimplindo com a sua obrigação, contudo, fora usada indevidamente pelo financista, ganhando muito dinheiro, vez que o equipamento deu maior velocidade para a sua indústria. No acerto de contas, o inventor pediu uma indenização ao financista pelo uso não permitido do invento, e que fosse deduzido do seu débito financeiro restante, o lucro obtido pelo seu credor. Pois é, durou a demanda 110 anos. Não observei se houve sentença. Provavelmente não. Todos haviam morrido, – partes, advogados e juízes. Este é o nosso país, este é o homem que se diz obra da criação divina.

Para não me estressar ainda mais, e enfartar, falo de coisa boa, do ultimo livro que lancei, com sucesso: – “Cronicidade” e do CD “Besame Mucho”. Estão perfeitos. Seguem em anexo. O primeiro, composto com 72 crônicas e o segundo 18 boleros inesquecíveis, interpretados por este que te escreve.

Felizmente, a literatura e a musica são legados dos deuses do Olimpo de nossas consciências intelectualizadas, aos poucos privilegiados, que são - os que produzem; os que lêem e os que ouvem. Agora, vou deitar-me à sombra de um cajueiro, ouvir os poucos pássaros canoros que restam em nossas matas não muito virgens, mas que tentamos conservá-las, no pequeno rancho construído com os parcos recursos advindos de muita labuta. Quando puder, dê um abraço neste mar que banha as praias desta cidade de São Salvador da Bahia, por onde passeamos em nossa juventude, fonte de inúmeras poesias. Saudade de Itapoã.

Um grande abraço, do amigo,


Milton.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CARTA PARA ANA LOIRA



Feira de Santana, 12 de novembro de 2011.


Querida amiga, Ana,


Como é do seu conhecimento, comemoro o meu aniversário, e, já se passaram muitos anos, desde que nos conhecemos. Seria hoje um dia para falar de coisas boas, com musicalidade e poesia. Jurei que não falaria de coisas ruins, de maus presságios, agouros, bruxas e malversação, mas, quebrei a minha jura, por causa dos juros exorbitantes praticados pelos Bancos e demais instituições financeiras, em detrimento da população necessitada, dos consumidores inevitáveis deste mercado torpe que nos alimenta a peso de ouro, que não possuímos, mas pagamos o preço, e a maioria das vezes sucumbimos, embora o governo federal diga que a inflação é de 0,6 e conceda aumento salarial de 6% ao ano para os trabalhadores, enquanto os parlamentares se dão aumento de 70%, pra trabalharem de segunda à quarta, ou seja, três dias por semana, uns, na parte da tarde, e outros, pela manhã, num esforço hercúleo para não morrerem de tédio, em suas riquezas ilícitas, com 13º e 14º salários, além da ajuda paletó e outras benesses, engabelando todos nós. Pesquisando a minha árvore genealógica, descobri que tenho herança genética de Diogo Álvares Correia – o Caramuru, homem valente, que sobreviveu após um naufrágio e foi temido pelos índios antropófagos, daí o meu destemor. Pois é, minha amiga. Fico pasmo quando leio que nosso País é inviável porque perde para a corrupção R$ 85 bilhões de reais por ano; tem uma máquina burocrática que cresce mais do que o PIB e cobra 40% deste em impostos, mas não consegue zerar o déficit público, gerando energia elétrica pelo método mais barato do mundo e a entrega ao consumidor por um dos preços mais elevados do planeta, com a carga tributária mais injusta do mundo civilizado, batendo em nossa porta para cobrar a maioria das vezes o indevido. O nosso dinheiro aplicado em caderneta de poupança rende 0,6% ao mês, mas o nosso cartão de crédito nos cobra até 19,9% ao mês; o cheque especial 8,21% ao mês e 158,03% ao ano, uns, e outros, CET de 9,66% ao mês e 207, 080% ao ano, com juro mensal de 9, 030% e anual de 182,19%. É ou não é um assalto aos nossos parcos rendimentos do labor suado? É ou não é uma afronta ao nosso povo desprotegido, tutelado por leis injustas que só beneficia os poderosos, corruptos e corrompidos? Enquanto isto, todas as igrejas de todas as religiões são isentas de qualquer tributo, assim declarado pela Carta Magna, que ainda diz - “todos são iguais perante a lei”. No meu labor advocatício as decepções somam-se aos milhares. Juízes e Promotores se julgam deuses e nós, pobres mortais, submissos ao império dos incompetentes. Só temos direito ao “jus esperniandi”, porque a deusa vendada ficou surda e muda. Ainda hoje recebi uma intimação de um processo que tramita desde os idos de 1982, com o despacho brilhante de um Magistrado – “Diga a parte autora se tem interesse no andamento do feito”. Como se a postulação fosse um ato inócuo. Parece brincadeira. Como a Bela Adormecida, espera o judiciário pelo beijo ressuscitador, para acordar do pesadelo da inércia. Os demandantes morreram e o advogado se aposenta decepcionado, após 50 anos de longo estudo, escrevendo o que as Excelências não leem. Fez-me lembrar de um processo que encontrei devolvido pelo Egrégio Tribunal de Justiça, no ano de 1986, cujo ajuizamento se deu em 1876, para dirimir uma disputa indenizatória, envolvendo dois Carpinteiros, - um, o autor de uma engenhoca, que facilitava a confecção dos móveis, contudo, seu empreendimento lhe custou as ultimas reservas financeiras e para sobreviver tomou emprestado um valor em dinheiro na mão de um colega de profissão, dando em garantia o depósito da bendita máquina, que não poderia ser manipulada enquanto o devedor estivesse adimplindo com a sua obrigação, contudo, fora usada indevidamente pelo financista, ganhando muito dinheiro, vez que o equipamento deu maior velocidade para a sua indústria. No acerto de contas, o inventor pediu uma indenização ao financista pelo uso não permitido do invento, e que fosse deduzido do seu débito financeiro restante, o lucro obtido pelo seu credor. Pois é, durou a demanda 110 anos. Não observei se houve sentença. Provavelmente não. Todos haviam morrido, – partes, advogados e juízes. Este é o nosso país, este é o homem que se diz obra da criação divina.

Para não me estressar ainda mais, e enfartar, falo de coisa boa, do ultimo livro que lancei, com sucesso: – “Cronicidade” e do CD “Besame Mucho”. Estão perfeitos. Seguem em anexo. O primeiro, composto com 72 crônicas e o segundo 18 boleros inesquecíveis, interpretados por este que te escreve.

Felizmente, a literatura e a musica são legados dos deuses do Olimpo de nossas consciências intelectualizadas, aos poucos privilegiados, que são - os que produzem; os que leem e os que ouvem. Agora, vou deitar-me à sombra de um cajueiro, ouvir os poucos pássaros canoros que restam em nossas matas não muito virgens, mas que tentamos conservá-las, no pequeno rancho construído com os parcos recursos advindos de muita labuta. Quando puder, dê um abraço neste mar que banha as praias desta cidade de São Salvador da Bahia, por onde passeamos em nossa juventude, fonte de inúmeras poesias. Saudade de Itapoã.

Um grande abraço, do amigo,


Milton.

PS. Do Livro CARTAS NÃO REMETIDAS.

sábado, 21 de setembro de 2013

CASSINO DA URCA - QUITANDINHA E RUA AUGUSTA

ALBERTO – O AVENTUREIRO



Baiano de nascimento, nordestino da gema, o sonho de Betinho era chegar ao Rio de Janeiro, Cidade dos sonhos, ilusões e desilusões. Imaginando-se nos salões do Cassino da Urca, nos Bailes do Hotel Quitandinha, nos desfiles do Teatro Municipal, vislumbrando as curvas das lindas vedetes, como Virginia Lane, e os sons das Orquestras maravilhosas regidas pelos grandes maestros – Guio de Moraes, Pernambuco, Vicente de Paiva, Calos Machado e outros, tendo à frente vozes como as de Francisco Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Dick Farney, Linda e Dircinha Batista, Carmem Miranda, Emilinha Borba, Marlene e tantos outros, embarcou na Marinete que saia do Retiro e desembarcou na Praça Mauá, centro da Cidade Maravilhosa. A viagem durou dois dias. Chegou todo empoeirado e com o pouco dinheiro que levou para as primeiras despesas, até conseguir um emprego, se hospedou em uma Pensão, na Rua do Acre, de onde pretendia sair para início de suas aventuras. Não conhecia ninguém na terra do samba, nem mesmo tinha qualquer referência que lhe pudesse orientar na arte da sobrevivência. Não tinha profissão definida, nem formação universitária, tendo, apenas, concluído o segundo grau na escola pública, em um Bairro distante do subúrbio de Salvador. Ensinaram-lhe, na pensão, que a maneira pela qual ele poderia conseguir um emprego, seria comprando o Jornal de Brasil, que tinha uma seção de anúncios de empregos. Pela manhã, logo cedo, adquiriu o jornal, sentou-se na Cinelândia, após tomar um “pingado” (copo de café com leite) acompanhado de um pão com manteiga, portando uma caneta, foi marcando os possíveis empregos que poderia assumir e foi à luta. Depois de atender aos diversos anúncios, sem êxito, porque lhe exigiam experiência, que não possuía, aceitou vender livros de literatura, o que iria fazer de porta em porta. Iria passar por um período de experiência, durante três meses. Se aprovado, teria sua carteira assinada, com salário mínimo e uma comissão de dois por cento sobre as vendas. Deram-lhe algumas coleções de diversos autores, dentre eles, Monteiro Lobato, La Fontaine, Esopo, Irmãos Grins e Alexandre Dumas. A cada porta que batia recebia um “não interessa”, “não compro livros”, “a patroa não está em casa”, isto quando não recebia a porta batida na cara. Não se desanimou no primeiro mês, conseguindo negociar duas coleções, que lhe renderam em comissão o suficiente para pagar alguns dias da Pensão. Alberto, apelidado Betinho, insistiu, até que, em Copacabana, Bairro das noites boêmias cariocas, reduto da classe média alta, que abriga artistas, políticos bem sucedidos, financeiramente, belas vedetes em ascensão e outras decadentes, sustentadas por ricos senhores, enfim, Betinho, encontrou Margot, residente em um apartamento duplex, na Avenida Atlântica, no Bairro de Copacabana. Mulher de seus cinquenta anos, bem conservada fisicamente, amante de um Senador da República natural do Maranhão, que lhe dava uma pensão alimentícia voluntária de alguns milhares de cruzeiros, pelas visitas amorosas que fazia de quando em vez, Margot, sedenta de amor, viu em Betinho o cafetão perfeito – homem jovem, bonito, em pleno vigor físico, sem compromisso, desabrigado e aventureiro. Propôs-lhe o romance e ele aceitou, dando pulos de felicidade enquanto descia pelo elevador, após deixar o apartamento daquele anjo que caiu do céu. Ficou acertado que durante a semana o novo casal se encontraria no apartamento, se acautelando da visita do parlamentar, que era sempre anunciada com antecedência. Com o decorrer do tempo, para quebrar a monotonia do lar e o excesso de tardes e noites de amor, saiam pelos Bares, Boates e Cassinos, consumindo as melhores bebidas e deliciosas comidas. Betinho deixara o emprego de vendedor de livros e conseguiu um contrato de trabalho como Garçom em um Dancing, por indicação de uma amiga de sua amada, que não percebeu o risco de ser preterida por outras mulheres mais jovens e sedutoras. A primeira da fila foi Dalri, uma morena deslumbrante, de corpo escultural, amiga de Margot, que incentivara o tal emprego. Tudo às escondidas. Alberto, em seu trabalho, impecavelmente bem trajado, falante, simpático começou a ser paquerado por mulheres, homossexuais, bissexuais e até por homens casados que tinham o prazer de dividir a relação sexual com sua mulher e outro, quando não era em grupo. Betinho se empolgou com as conquistas e se imiscuiu de tal forma, que Margot já não suportava a sua presença, rompendo o seu romance, que não durou o curso de um ano. Betinho teve que deixar o apartamento à beira mar, indo morar com um amigo solteiro, que conheceu, sendo este alto funcionário da república, que residia na Vieira Souto, no Bairro de Ipanema. Era uma “amizade colorida”, sustentada pelo servidor público, que não poupava recursos financeiros para manter o laço de amizade entre os dois. Um belo dia, cansado daquele relacionamento, Betinho aproveitou a ausência do companheiro e fez a sua mudança levando consigo muitos o
bjetos do amante, tendo que ir para São Paulo, em busca de novas aventuras, fugindo da possibilidade de acertar as contas com a polícia. Na Paulicéia, enfrentou novos horizontes, envolvendo-se com o pessoal de teatro, levando-o a um curso de representação teatral, chegando a se apaixonar pela profissão, trabalhando como figurante, inicialmente, e após dois anos de muita dedicação, conseguiu a oportunidade de representar a peça “As Mãos De Eurídice”, um monólogo, de autoria de Pedro Bloch, (O título se refere às mãos da amante, Eurídice, hábeis na banca do cassino onde Gumercindo Tavares perde sua fortuna). Um ano depois, representa o “Monólogo das Mãos” de Giuseppe Ghiaroni. Deprime-se com a interpretação. Vê ali o que se fez com as próprias mãos. A esta altura dos acontecimentos, Betinho já estava com quarenta e cinco anos, e, embora prematuramente, cansado das aventuras, sem constituir uma família e um ambiente sólido, residindo em um “kitinete” na Rua Augusta, sem motivação para continuar vivendo, joga-se do décimo quinto andar do prédio e termina a sua vida de aventuras.


Feira, 01.07.2013.

domingo, 15 de setembro de 2013

CLERICAL OPUS 1



Oh Maria
Concebida com pecado
Vinde a mim
Numa ascensão erótica
Rogai por nossos holocaustos
Amorosos
Bendita seja a hora
Universal
Do nosso beijo
Deixai à mostra
As puras carnes brancas
Que vos contornam
Na afirmação do belo
Iluminai o leito
Com este vosso olhar
Fala-me de tudo
Que vos diz respeito
E encosta junto à mim
A vossa mão bendita
Deixando-me silente
Em meditação
Que seja a vossa ausência
Todo o meu martírio
E os versos que vos lego
A nossa oração
E no momento tremulo
Do vosso prazer
Não me deixeis cair
Em letargia
Livrai-me do mal
De não vos ter
Amem.


Rio de Janeiro, 1968.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

A PRAÇA




Reduto de prostitutas,
Vadios, cafetões,
Drogados e desocupados,
Encontra-se a Praça
Onde brinquei
Quando criança.

Ao centro
Canteiros abandonados
Para a instalação
De desorganizadas barracas
Que substituem
As quermesses do meu tempo.

Não mais os brinquedos.
Impera o vilipêndio de garrafas cheias
De variadas bebidas
Que levam homens e mulheres
Ao alcoolismo sem retorno.

As roseiras,
As margaridas,
Begônia
E malmequer,
Só na lembrança menina
De um tempo que passou.

Bancos são albergues
Para o sono
Dos desesperados
E para o coito ligeiro
Da besta-humana,
Talvez,
No seu último orgasmo.

Do Templo religioso de outrora,
Das orações,
Restam imagens esquecidas
Que os iconoclastas se encarregaram
De maldizer
Afastando a idolatria inocente
De uma herança de antanho.

Não mais as retretas,
As filarmônicas
E a alegria
Das marchas
E dos dobrados.

Não mais os maestros
Os músicos
E os instrumentos maviosos
De sonoridade
Quase divina
Que nos acalmava
E nos levava
À conquista da mulher amada.

As palmeiras
Inspiradoras
De tantos poetas
Já não servem de abrigo
Dos sabiás.
Uma - pelo abandono
E a outra pelo extermínio.
Atributos do Ser
Que por ali passará
Horizontalmente
Para a missa que não mais ouvirá.

Feira, 02.07.2013

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

CARTAS NÃO REMETIDAS - YOLE

Rio de Janeiro, 25/04/2013. Querida filha Yolanda, Escrevi para sua irmã e não poderia ficar silente com relação a você, neste momento em que revivo os melhores dias de minha vida, quando parti de Feira de Santana, para realizar sonhos de uma juventude passageira, que se foi há 52 anos. Sei que não encontrarei as pessoas e os momentos vividos, mas, diz o ditado popular que “recordar é viver duas vezes”, justificando a minha visita à cidade dos meus devaneios. A primeira coisa que fiz, após percorrer as vias que separam a Ilha de Governador, onde fica o Aeroporto Galeão, atualmente denominado “Tom Jobim”, em homenagem, bem merecida, ao grande músico e compositor, trazendo em minha memória a lembrança de Orestes Barbosa, que ali viveu e muito escreveu, foi desembarcar na Rua Ferreira Viana, precisamente, no Hotel Regina, onde fomos bem recebidos, eu e Eva. Subimos para o apartamento, tomamos um banho, trocamos de roupa e partimos para a primeira missão, - dar um passeio pelo quarteirão, passando pelo Palácio do Catete, Hotel Glória, de muitos bailes de carnaval, que fica na Rua Silveira Martins, seguindo pela Praia do Flamengo, Edifício Martinez, com sua estrutura de pedras rústicas, retornando para a Rua onde morei por seis anos, de onde me ausentei por 43 anos. Poucas mudanças, percebi, havendo de novo, a Estação do Metrô, na Rua do Catete. Paramos em frente ao Edifício de nº 56, que me abrigou por longo período e que, dali parti, para caminhar sonhos e realidades. O prédio continua com a mesma estrutura, a mesma cor, acrescentando-se, apenas, grades de ferro, pela necessidade que a sociedade moderna, desorganizada e marginalizada, impôs a todos nós, que vivemos enjaulados, enquanto os bandidos circulam soltos para assaltarem a população produtiva e honesta. Vi na fachada do Edifício um anúncio em um apartamento – “Aluga-se, para temporada” e propus a Eva um retorno breve, alugando o imóvel, para podermos percorrer a Cidade de Encantos Mil, com mais vagar e paciência, mesmo porque é merecido. Soube que o prédio onde abrigou por muitos anos a UNE, sede da União Nacional dos Estudantes, de onde saímos para muitas passeatas no tempo da ditadura militar de 64, será retomado, não se definindo o destino. Lembrei-me que bem próximo, residiu Carlos Lacerda, um dos maiores autodidatas que conheci tradutor de Shakespeare, tribuno dos melhores, socialista que se transmudou para o capitalismo voraz, jornalista, artífice do suicídio de Getúlio Vargas, mentor do golpe que derrubou o governo democrático de João Goulart, na esperança de assumir o Governo da República, que os militares não permitiram e, segundo alguns historiadores, foi assassinado, após se articular com Juscelino e Jango, em Portugal, uma retomada de poder, no Brasil, destino que foi reservado para os outros dois, dizem, pela CIA. É preciso visitar o Rio e reviver sua história, que reflete o nosso país de ontem e de hoje. Meus vinte anos foram-se, como vão as realizações consumadas ou não. A formosura, a energia e os passos ligeiros, já não existem, mas, ainda há força para caminhar estradas por onde passei, e vou andar, até as pernas não mais permitirem, e, a mente, já cansada, faça silencio. A Rua é calma, poucos são os passantes, dando um ar de paz, que dá vontade de ficar, e ficaria não fosse o grande amor, que tenho pela minha família e pelo pouco que construímos nesta terra de Lucas, que felizmente, abriga muitas pessoas dignas e que nos dá esperança de dias melhores, embora nos deixe céticos algumas vezes. Ainda acredito, quando vejo em você tanta tenacidade, tanta inteligência e vontade de vencer. Sei que meu destino é cantar – “Foi um Rio/ Que passou em minha vida/ E meu coração se deixou levar!”. (Paulinho da Viola). Despeço-me, recomendando que assista no You tube “A Valsa de uma Cidade”, apreciando a poesia de Antonio Maria e a música de Ismael Neto. No mais, mando-lhe fotos em frente ao prédio da Ferreira Viana, nº 56, e um beijo, extensivo a todos, aí de casa. Seu pai, Milton.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Rio de Janeiro, 25 de abril 2013. Querida filha Magda, Conforme previsto, chegamos à Cidade Maravilhosa. O trânsito Feira/Salvador, como de costume, nestes últimos anos, tem sido um transtorno, com os pequenos reparos na pista da BR 324, causando engarrafamentos imensos, justificando uma viagem para Salvador, com antecedência mínima de três horas, para não perder o voo. No aeroporto, em um país como o nosso, sem terrorismo, nos deixa perplexo, pelo tratamento grosseiro que nos é dispensado, vez que, nos obrigam a passar por um detector de metal, colocar toda a bagagem em uma esteira, com equipamento de vistoria e somos compelidos a depositar em uma caixa – relógio, pulseira, chaves, moedas, cinturão, bolsa, carteira, e achando pouco, humilhando-nos, determinam que retiremos os nossos sapatos. Tenho a impressão que esses apetrechos estão constituídos em armas perigosas, colocando em risco a aeronave, tripulação, passageiros, e quem sabe, as torres gêmeas, que ainda não construímos. Felizmente, embarcamos, não havendo constrangimentos na chegada. Fomos direto para o Hotel Regina, que fica na Rua Ferreira Viana, no Bairro do Flamengo, escolha que fiz por ter residido neste logradouro por oito anos, no prédio de número 56, bem próximo da atual hospedaria. Constatei a tranquilidade que reina na rua de muitas saudades, por onde andei indo e vindo de uma vida artística prazerosa, que pude aproveitar, muito embora, por pouco tempo. Lembrei-me das minhas andanças pelo Largo do Machado e fiz uma visita a Igreja, caminhando por todo o largo, que abriga uma diversidade de pessoas que demonstram tranquilidade, com uma população de idosos, que nos indica boa qualidade de vida. No Hotel, a recepção é boa, bastante agradável, o que nos deixa confortados. Aproveitamos a tarde para um passeio pelo jardim do Palácio do Catete, sede de governos, que registrou a morte de Getúlio Vargas, nos idos de 1954. O outrora Paço da República conserva em suas instalações, lembranças daquele que foi cognominado “Pai dos Pobres”, exibindo a cama onde se deu o provável suicídio do caudilho, sua mesa de trabalho e outros objetos. Para esta visita paga-se uma taxa de oito reais. Em compensação a visita pelo jardim é aberta ao povo, sem ônus, permitindo verdadeiro lazer, com bancos, para o repouso, com leituras e meditações. A caminhada, que ai fizemos, transformou-se em verdadeiro exercício físico e mental. Amanhã, programamos, eu e Eva, uma visita ao bairro de Ipanema e Leblon. O foco é a Praça Nossa Senhora da Paz, último reduto da boemia carioca, do romantismo, aos versos despretensiosos do movimento da Bossa Nova, cujos trechos não foram medíocres, pela intervenção do Poeta Vinícius de Moraes. Vou ver o que restou do Restaurante Cabana e do Boliche de Mario Prioli, ao lado da Igreja, de muitas noites vividas. Aproveito para lhe mandar algumas fotografias. Beijos, extensivos a Yole, querida caçula, orgulho da nova geração de nossa família.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

UMA CARTA PARA O RIO DE JANEIRO

Remetente: Milton Pereira de Britto Destinatário: Cidade Maravilhosa. Feira de Santana, 25.05.2013. Minha querida Princesinha do Mar, Em primeiro lugar, desejo que esta missiva chegue e lhe encontre gozando dos privilégios que a vida lhe outorgou desde o seu nascimento, e aproveito para ratificar o conceito dos poetas e compositores que cantaram a sua beleza, em versos que ainda hoje são atuais – “O Rio de Janeiro Continua lindo/ O Rio de Janeiro continua sendo...” (Gilberto Gil); e, “Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil/ Cidade Maravilhosa, coração do meu Brasil...(André Filho). Digo a você, minha querida, que apesar dos pesares, segundo as versões da mídia perversa que só vê em você o berço da marginalidade, com seus morros que não são uivantes, mas, são violentos, quando se trata de confrontos entre traficantes e polícia, apesar dos pesares, você continua linda. Sem lhe avisar ou pedir permissão, fiz-lhe uma visita, porque pretendia passar e passear por caminhos, por mim andados em épocas de aventura, sonho e realidade. Hospedei-me no Bairro do Flamengo, na Rua Ferreira Viana, onde morei por oito anos, na década de 60, indo e vindo de norte a sul, com os meus compromissos em Copacabana, Laranjeiras, Tijuca, Méier e adjacências. Você, com seus braços abertos, carinhosamente me recebeu, permitindo a minha circulação com tranquilidade, paz e harmonia. Aproveitei e visitei os Jardins do Palácio do Catete, recanto aprazível, aberto para o público, que se delicia nas sombras dos arvoredos, nos cantos dos pássaros e no barulho gostoso das águas correntes de suas pequenas nascentes. Fiquei deslumbrado com a população idosa, que ali encontrei e ainda mais surpreso com esta população espalhada na zona sul, do Leblon à Ipanema, de Copacabana ao Flamengo. No seu trânsito ligeiro pude constatar a organização do tráfego, que permite aos seus moradores e visitantes, o deslocamento regular, sem filas de espera ou tumultos. Peguei o Metrô que lhe presentearam, saindo da Rua do Catete para a Praça General Osório, logradouro extremamente urbanizado e andei com minha companheira de todos os dias, Eva, que apesar do cansaço, se sentiu recompensada de visita tão ilustre. Suas praças são urbanizadas, cuidadas e humanizadas, como raramente se vê neste país de governantes descompromissados com o bem público. A Praça Nossa Senhora da Paz, pouco mudou, lá permanecendo a Igreja em louvor a Padroeira e no seu entorno não mais o Boliche de Mário Prioli, que reunia artistas e amigos em noites memoráveis; não mais o Restaurante Cabana, onde fiz minhas últimas apresentações musicais como profissional. Por lá, ergueram espigões e no local do Restaurante, encontra-se uma garagem. Sei que a sua polução cresceu geometricamente e exige este sacrifício de não permitir a beleza das mansões e abrigos da classe média, que gozava da brisa fresca do mar, que margeia o nobre bairro, que serviu para Tom Jobim musicar os versos de Vinicius de Morais, na célebre musica – “Garota de Ipanema” –“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela menina, que vem e que passa, num doce balanço, caminho do mar...”. Não pretendo me alongar nesta primeira correspondência, mesmo porque tenho muito que lhe contar sobre esta minha estadia surpresa, na visita que não lhe avisei, mas que fiquei gratificado. Em breve, escreverei para lhe falar dos cantos e recantos por onde andei e amei. Abraços, daquele que por muitos anos foi, carinhosamente, tratado por seus filhos, de cariobano,

segunda-feira, 20 de maio de 2013

TRISTE FIM DE UM BOÊMIO

Na década de trinta, era apenas um menino comportado, de uma família de classe média, residente na capital do Estado, estudando em colégio de boa formação educacional, tendo no currículo matérias como latim, francês, inglês, dentre outras. Ao completar dezoito anos, matriculado no curso científico, ingressou no exército brasileiro na condição de Cadete, aspirante ao grau de Oficial das forças armadas, no ano de 1940. Em consequência da Guerra deflagrada pelos alemães em 1939, tomando dimensão mundial, em 1944, foi Raimundo convocado para integrar as Forças Expedicionárias que iria lutar na Itália, na famosa batalha de Monte Castelo, onde os pracinhas saíram vitoriosos. Retornando a sua terra natal, amante da boa música e exímio violonista, muitas vezes andou pelas madrugadas, na companhia de amigos, a fazer serenatas nas janelas de lindas mulheres que conquistou. Casou-se com uma professora e teve filhos, transferindo a residência para uma cidade do interior, aí permanecendo até completar sessenta e cinco anos de idade. Durante o período interiorano, conheceu diversos amigos, seresteiros, vivendo longas noites de boemia, misturando musica, mulheres e bebidas, que terminava nos bordéis, na prática sadia de fazer amor. Ao tempo que vivia intensamente a vida noturna, se afastava da família, que o levou ao desquite, penalizado por uma pensão alimentícia, que teve que carregar pelo resto de sua existência, embora tivesse o direito de exonerar-se desta obrigação, pela emancipação dos filhos e da ex-esposa, que tinha recursos financeiros suficientes para a sua sobrevivência. Tentou a via judicial para este intento, não conseguindo, pela conivência tendenciosa de um magistrado, influenciado por laços religiosos e financeiros. Pela vida noturna que viveu, ganhou o apelido de Boêmio. O conheci no final da década de 50, com quem desenvolvi o gosto pela musica, executada por um bom violão que nos acompanhava. Por aqui andamos pelas madrugas, em ruas e avenidas, ao som de “Abre a janela, vem ouvir a voz plangente/ do violão, que junto a mim chora comigo/ Abre a janela e vem ouvir o soluçar/ de quem na vida só por ti vive a penar”. Ausentei-me por vinte anos e ao retornar encontrei Boêmio, alquebrado, sem a companhia de um amor verdadeiro, e ainda perseguido pelos alimentos a que se obrigara injustamente, já aposentado, sobrevivendo com parcos recursos, mas ainda com a voz macia e o violão que executava como poucos. Amante da música, morreu com ela, sua companheira inseparável, em uma casinha no bairro de Itapuã, que já não era a praia aprazível de longos anos, mas o centro de um burburinho de desunião e conflitos, de poucos amigos, ou quase nenhum. O Exército perdeu um herói, as mulheres perderam um amante, a cidade perdeu a musicalidade de um grande artista, que a mídia desconheceu, o mundo perdeu um poeta e um cidadão exemplar, que tentou viver com alegria. Não sei se ao morrer esboçou algum sorriso, mas deveria, porque, afinal de contas, pôde conviver com o que há de mais sagrado – a musica.

domingo, 12 de maio de 2013

EU VOLTEI

Raul Sampaio, um dos maiores compositores, deste país de curta memória, dentre as belas musicas de sua autoria está “Meu Pequeno Cachoeiro”, consagrada na interpretação de Roberto Carlos, seu conterrâneo de Cachoeiro do Itapemirim, cidade que fica no Estado do Espírito Santo. A identidade desta composição com a minha pessoa é no sentido inverso, tomando como base, os primeiros versos. “Eu passo a vida recordando de tudo quanto aí deixei Cachoeiro, Cachoeiro vim ao Rio de Janeiro p'ra voltar e não voltei!”. Tanto Raul, quanto Roberto saíram de Cachoeiro ,“p’ra voltar” e Roberto não voltou. Comigo aconteceu o inverso. Fui p’ro Rio de Janeiro p’ra não voltar e voltei. Os três dedicados ao meio artístico, prontos para o sucesso, mas a vida surpreende os seus passantes, conforme as circunstâncias, regido por astros e por leis cósmicas, pelo homem, a maioria das vezes, inentendível, de tal sorte, que seguem rumos divergentes. Eu, não soube aproveitar as oportunidades que me foram dadas, negligenciei, não insisti, desisti, talvez, pela primeira vez, de uma tarefa que me foi outorgada pela natureza. Nasci artista, poeta, compositor e cantor com uma voz que me privilegiou nos setores de comunicação por onde passei, de tal sorte, que cheguei a cantar no mesmo clube onde Roberto se apresentava em início de carreira, eu recebendo cinco mil cruzeiros e ele sem cachê. Cheguei ao Rio no início de 1961, vinte dias depois estava contratado por uma Boate, denominada (CLAUDIU’S BAR), em Copacabana, onde se apresentavam cantores consagrados. Daí abriu-se todas as portas: Radio Nacional – Programas Cezar de Alencar; Paulo Gracindo; Manoel Barcelos; com audiência em todo território nacional; todas as demais Rádios e Televisões, da Cidade Maravilhosa, serviram de palco para minhas apresentações, e para completar, gravei disco na maior gravadora do mundo – RCA Victor. Veio o movimento da Jovem Guarda, com influência da musica americana do norte e a Bossa Nova, esta, patrocinada por filhinhos de papais ricos, que saiam do ostracismo dos apartamentos luxuosos da zona sul, com influência do Jazz, para as Boates e emissoras comprometidas com a aculturação do Brasil. Envolvido em movimentos políticos estudantis, com a intelectualidade e o meio artístico tradicional, fui, enterrado vivo, com minhas paixões e ideais, restando o recuo, para a cidade de onde sai – Feira de Santana. Ai, refeito dos traumas e das frustrações, com outra formação profissional, sobrevivi, vendo de perto a glória dos que sabem persistir e o consolo de quem sabe se recompor e seguir novos rumos, com dignidade e sapiência. Quarenta anos depois de uma ausência forçada, vou ao Rio de Janeiro, P’ra voltar mais uma vez, talvez, de forma definitiva, porque sinto que aqui é o solo que me foi reservado para o ultimo suspiro. Confesso que gostaria de ter nascido e vivido na Suiça, mas cada um tem o destino que merece. Vou matar uma saudade que ainda sufoca o meu coração, embora, não encontre os mesmos caminhos e os descaminhos por onde passei já modificados pelos homens, que transformam a natureza segundo os seus caprichos, conveniências e vantagens financeiras. Não mais Le Rond Point, Michel, Claudius, Cabana, Jirau, Maison de France, Bonde da Gávea, Ônibus Elétrico, Mariza Gata Mansa, Dolores, Sarita, Braguinha com suas marchinhas e seu Carinhoso na parceria com Pixinguinha; não mais Ataulfo e as Pastorinhas; não mais o mais ou o menos. Não mais Marivone, Copacabana e Ipanema. Vou de passagem, aos sebos, para falar com Dostoiéviski, Montesquieu, Rousseau, Voltaire, Manuel Bandeira, Olegário Mariano e suas cigarras cantantes na morada da Gávea; não mais o Zicartola na Rua da Carioca ao som de As Rosas Não Falam, na voz do autor, assistido pela classe boêmia do meu saudoso Rio de janeiro à janeiro.

quinta-feira, 14 de março de 2013

NÃO QUERO CRER

. Não quero crer que a impunidade está a campear, pela inércia do judiciário, e que os princípios morais, se degradaram tanto, que a família, não os reconhece como norma de conduta; não quero crer que a vocação, deu lugar ao comodismo do emprego público, sem a responsabilidade do servir, e que o autoritarismo, substituiu o princípio da autoridade, estabelecendo-se o autoritariocracismo, nas mãos dos poderosos, dominados pela corrupção, pelos vaidosos e descompromissados, com a norma jurídica, como regra de conduta, para o aperfeiçoamento do homem; não quero crer que a degeneração dos costumes, tornou-se a realidade da maioria do ser e que cada um de nós tem um preço, para os nossos atos, vilipendiados pelo materialismo voraz, que visa a aquisição de bens de consumo, exageradamente; não quero crer que homens e mulheres, cheios de vaidades, togados para servir, tornam os seus semelhantes submissos e humilhados, como se estivessem acima do bem e do mal; não quero crer que seres humanos vivem enjaulados, porque foram urdidos pela fome, pela miséria, pelo abandono, pelo analfabetismo, pela torpeza dos egoístas, que se enjaulam em condomínios de luxo, semideuses desumanos, espalhados em templários, mitômanos que se sentem perdoados, sem escrúpulos e sem clemência, a condenar incautos desprotegidos; não quero crer que a força se sobrepôs à razão, e que o amor passeia pelo mercantilismo de aventureiros, e que homens e mulheres, não constituem a célula “mater” que é a família, bem estruturada, plena de respeito ao próximo, cujo princípio maior é a harmonia; não quero crer que a omissão e o despreparo do ser humano, foi ainda mais degradado e aviltado, pela corrupção e pelos conchavos das confrarias herméticas, protetoras de canalhas e vendilhões, da própria alma; não quero crer que somos enganados, todos os dias, por falsos profetas e que a honestidade é uma exceção; não quero crer que os homens de bem, possam sentir vergonha, de serem honestos, em consonância com a máxima ruibarbosiana; não quero crer que o Parlamento seja o albergue dos mensaleiros e detratores inescrupulosos, protegidos sob o manto da excrescência constitucional da imunidade parlamentar, que permite a impunidade a criminosos, que não usam o vernáculo, para propalar e sim para pronunciar impropérios, votando matérias conforme o preço. Não! NÃO QUERO CRER. Feira, 11 de março de 2013. Milton Britto.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

SEM SAÍDA

Meu pai, na década de 30, saiu de Santanópolis, Distrito de Irará, Bahia, com destino a Feira de Santana, casando-se pela segunda vez, mudando-se para Bananeiras, onde teve a primeira filha. Voltou para Feira, teve o segundo filho, foi para Cachoeira, teve o terceiro filho e em 1940, transferiu-se para a Cidade Princesa, definitivamente, falecendo em Cachoeira na década de 70, vítima de acidente de veículo. Eu, terceiro filho, após vinte anos de ausência, desde 1961,residindo no Rio de Janeiro, retorno para a cidade de Senhora Santana, ainda serena, cosmopolita, mas, acolhedora, chegando em 2012, cambaleante, trôpega, enferma, quase moribunda, enquanto civilização, com alto índice de criminalidade, num país que finge estar em paz, contudo, enfrenta verdadeira guerra urbana, superando maior numero de mortes do que o registrado na guerra do Vietnã. Ainda me lembro da Rua Direita, onde morávamos, tendo na sua extensão casas residenciais, de famílias tradicionais, vivendo em harmonia, todos católicos praticantes, frequentando as Igrejas da Matriz e dos Remédios, em missas, novenas, casamentos e batizados, confessados e comungados, segundo as leis do Vaticano. Havia quermesses, retretas, encontros, e não me lembro de nenhum desencontro, porque havia respeito entre os moradores, que se confraternizavam como se fossem de uma só família. O Padre era a autoridade mais respeitada, a quem se buscava conselho e penitência, se por acaso se desconfiassem de um deslize ou de um pecado, que nunca era mortal. No mês de abril de cada ano, havia a festa da Micareta, com carros alegóricos, que desfilavam pela Rua Direita, para o deslumbre da comunidade. Na Praça da Matriz, em janeiro, dava-se a Festa de Santana, com cadeiras em volta do Coreto, onde jovens e adultos, homens e mulheres, ao som de dobrados e marchas carnavalescas, executados pelas filarmônicas, se deliciavam, atirando confetes, serpentinas e lança-perfumes, em brincadeiras e paqueras inocentes. O tempo, muitas vezes cruel, impiedosamente, assiste a glória de uns e a miséria de outros, que, quase sempre em sua maioria queda, sem solução viável, que possa recompor a sociedade digna do ser humano. Chego ao século XXI (vinte e um), em total desespero, nas avenidas, ruas e vielas, de desencontros e violências, sem o “bom dia” do meu vizinho, que me olha desconfiado, e que perturba meu sono e meu sossego, com seus modos egoísticos de agressor, porque seus hábitos confrontam os meus. O transeunte atropela e é atropelado, pela correria do dia a dia, de carro, moto e bicicleta, com a sonoridade de um equipamento, que identifica o grau de desequilíbrio mental, em que vive a sociedade chamada moderna. Adolescentes da minha rua furtam as mangas do meu terreno ao lado, arrebentam o arame, que se encontra no muro como proteção, contra invasores e permanecem impunes, porque quem os conduz é o crak, a cocaína e a maconha, que os pais e as autoridades, por incompetência não sabem como combater. As vias públicas estão tomadas por clandestino comércio de mercadorias falsificadas, e as praças não são abrigos de repousantes senhores ou senhoras, que podem ser assaltadas a qualquer momento, ocupam-nas barraqueiros, camelôs e servem aos alcoólatras desocupados, que recebem benesses de um governo assistencialista que não dá emprego, dá esmola, enquanto o analfabetismo impera para a glória dos capitalistas corruptos que servem a Tio Sam. O motorista que vai ao seu carrão, ao lado do meu modesto veículo, avança lateralmente, para que eu lhe dê passagem e o de trás, buzina insistentemente, porque a sua pressa é maior que a minha, sem observar que me encontro impossibilitado de avançar, porque à minha frente, tem outro carro parado em fila dupla, na desorganização de um trânsito maluco. Confesso que estou irremediavelmente SEM SAÍDA.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

DE VOLTA À RUA SANTOS D’UMONT

Passei ontem pela rua, onde vivi dos cinco aos onze anos, e intervalos dos dezessete aos dezoito, na residência de meu pai e meus irmãos por mais de trinta anos. Ali Manoel Brito, construiu sua residência, com quatro quartos, três salas amplas, banheiro, dependências de empregados, quintal, cisterna e um tanque de alvenaria e cimento pra cinco mil litros de água, que era abastecido através de uma bomba manual, com uma roldana com duas manivelas, uma de cada lado, que eu e meu irmão mais velho, usávamos para bombear a água para o tanque. Lembro-me que, pegávamos um de cada lado e açoitávamos a roda, até completar o abastecimento. Tarefa que nos era passada pela madrasta, como condição para obtermos o dinheiro, para a entrada do Cinema Iris, no domingo. A sensação de ouvir Francisco Alves, em gravação, interpretando “Aquarela de Brasil”, com o bordão – “Ô, abre a cortina do passado, tira a mãe preta do cerrado, bota o rei congo no congado, Brasil, Brasil...” e a cortina da tela ia se abrindo para a exibição da película, compensava qualquer tarefa ou castigo. Naquela rua, brinquei de patinete e carrinho de rolimã, descendo ao lado, no passeio da Rua São José e à tardinha, assistia minha irmã, brincando com Marizete, cantando “Escravos de Jó” e jogando caxangá. Os vizinhos eram amigos, dóceis, respeitáveis e fraternos. Quando meu pai morreu, a madrasta logo vendeu a casa, alegando compromissos financeiros e não procedeu ao inventário. Para mim, ela entregou uma faca de prata, deixada pelo falecido, que guardo até hoje como lembrança. A casa, - ainda ontem, passei por ela, e quase chorei, ao vê-la tão abandonada, quase em escombros, como se nela jamais tivesse habitado vivente. Abrigo de amor e desamor, encontro e desencontro, agora ao léu, esperando para ser um boteco ou um comércio qualquer, sem alma de poeta, sem prosa e sem o calor da célula mater da sociedade, que hoje se refugia em condomínios, de seres desencontrados, que buscam desesperados, a companhia de um empreendimento, que supostamente lhes dará segurança. Como se estivessem seguindo o homenageado voaram todos, não em torno da “Tour Eiffel”, mas rumo ao desconhecido, por onde vagueiam os homens, sem conhecer a felicidade. Não mais as minhas idas à Rua do Meio, para buscar cola, querosene e roxo-terra, para preparar o produto, que encerou as lajotas de cerâmica que constituía o piso da residência; não mais o escovão, assentado na forma de ferro fundido, para fazer brilhar o piso; não mais Manoel, que se foi cedo; não mais a madrasta, que morreu sozinha, como sempre recomendou a todos – “cada um em sua casinha”. Adeus, Santos D’umont! Não passarei mais por você, que se encontra tão tumultuada, corredor de um trânsito ensandecido. Passarei por outras vias, para não me ver triste e saudoso dos amigos sinceros e de uma família que antes de tudo primava pela dignidade e que se desfez pela vontade única do tempo que não pára, nem dá carona, simplesmente, substitui o mortal. Feira, 14.12.2012.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

CINEMA AZTECA

Rua do Catete, nº 228, Bairro do Flamengo, Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, Brasil. Ali estava plantado o Cine AZTECA, próximo da minha residência na Rua Ferreira Viana, para onde eu ia, nos dias de folga, assistir bons filmes, no conforto de uma sala de projeção cinematográfica, que deixa saudade. Em 1964, início do período negro da ditadura militar, no império da censura e do silencio da arte, e da expressão livre, surge o baiano Glauber Rocha, idealista e cineasta consagrado pela intelectualidade, espalhando conceitos e verdades da vida brasileira, anunciando o despertar de uma realidade nua e crua, do nosso povo sofrido, - o guerreiro nordestino, que não desiste. Como dizia Guimarães Rosa - “O sertanejo antes de tudo é um forte.” Glauber lança no Cine Azteca o filme – DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL, cujo resumo se encontra bem detalhado pelo jornalista e crítico de cinema – João Carlos Sampaio. Vide texto abaixo: O mais célebre filme de Glauber Rocha e talvez o título brasileiro mais conhecido no mundo, Deus e o diabo na terra do sol é um extravagante exercício autoral, no qual se misturam influências do cinema realista, do faroeste norte-americano, da literatura de cordel, da dramaturgia, do teatro simbolista. O Sertão Nordestino no Brasil dos anos 1940 é o cenário para a saga do vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey) e sua esposa (Yoná Magalhães). Castigado pela seca inclemente, pela condição de pobreza e exploração da sua força de trabalho, o camponês sangra o latifundiário que o oprime e foge com a mulher. Nas andanças o casal vai encontrar um líder messiânico (Lídio Silva), que promete prosperidade e boa vida aos que o seguirem. Eles resolvem se tornar discípulos, até que a mulher se rebela com os rituais exóticos e resolve apunhalar o religioso. Novamente, os protagonistas ficam à deriva. É quando vão encontrar o cangaceiro Corisco (Othon Bastos), cuja vida consiste em saquear para tirar o sustento. Parece uma alternativa razoável para o casal desvalido, até que surge a figura do matador de aluguel (Maurício do Valle), justiceiro decidido a matar o cangaceiro. DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL - é um filme repleto de simbologia, que usa os personagens para recriar as forças conflitantes no Nordeste empobrecido. O líder messiânico representa Deus como solução para as injustiças sociais; o cangaceiro é o satanás, ou seja, a solução pela força. O matador de aluguel restitui o equilíbrio, afirmando que nem Deus, nem o seu algoz, são donos da razão. Da fome e da miséria, Glauber supõe que virá a revolta. A ira como alimento suficiente para o homem comum, representado pelo vaqueiro Manuel, contestar a sua própria condição. Ele é quem irá se salvar em meio a essa peleja entre Deus e o diabo, metáfora simbólica à crença democrática, de que o povo é quem detém o poder e a força para persistir, superando os desmandos e adversidades. Pois bem! A censura veio e tirou de circulação a película. Com a perseguição ao autor pelos militares, Glauber foi obrigado a refugiar-se em outro país. Durante 20 longos anos, sepultaram a liberdade de expressão, conduziram o povo ao semi-analfabetismo, e ao pior, – analfabetismo político, com o poder público entregue à degradação total. Glauber morreu de septicemia, em 1981, aos 42 anos de idade, no Hospital Bambina, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, após ser transferido de um hospital de Lisboa, Portugal, país onde vivia desde o seu exílio em 1971. Deus e o Diabo continuam vivendo na terra do sol Feira, 14.12.2012.