quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

AVENIDA SENHOR DOS PASSOS

DO LIVRO DE POESIAS - "O EU SONHADO"  (No Prelo) - Lançamento previsto para 2018.



AVENIDA SENHOR DOS PASSOS

Avenida das minhas serenatas,
Das minhas noites sonhadas,
Sondadas e caminhadas;
Das moças bonitas
Que namorei e não namorei;
Dos bate-papos gostosos
De Isabel, de Elia, Maritinha
E Candinha;
Dos assustados cantados,
Dançados e tocados
Por muitas madrugadas.

Avenida percorrida
Sem cansaço e sem mentira,
Glorificada pelos amores vividos
E jamais esquecidos.
Avenida do Ginásio Santanópolis
De tanto brilhantismo
Que a sua prole não cuidou;
Dos cinemas
Iris e Timbira,
Dos filmes de Cowboy,
Das matinês e Soirées,
Das apresentações artísticas
De Chico Viola,
Da Aquarela do Brasil
De Ari Barroso,
Abrindo as cortinas do passado...
Do glorioso cinemascope
Ao decadente filme pornô.

Avenida de Helena Assis,
Mestre de muitos ensinamentos,
De Vavá e de Vevé,
De Emilson e de Dedé,
De Chico Pinto
Que recebia Getúlio Vargas,
De Raimundo Pinto,
De Luiz Silvany,
Da Casa OK
De Álvaro Barbosa,
Da Escola São João Evangelista,
Da datilografia aprendida
Para a burocracia mercantilista
De um comércio que se organizava;
Da Professora Catuca e Hermengarda,
De Armando Oliveira e de Braginha,
Da Pensão que me abrigou,
Do Carnaval que passou,
Das Procissões e Romarias,
De Maria Lúcia e de Lúcia Maria,
Do Ferro de Engomar,
Do Colégio das Freiras Sacramentinas,
De Hermínio Santos,
Da Casa da Torre,
De Luis Alvim e de Faninho,
Do andar rebolante de Creuza,
Minha musa das primeiras poesias.

Avenida Senhor dos Passos
Que trilhei em passos firmes
A caminho da Usina de Algodão,
Para os babas das tardes de janeiro
E das noitadas de serenatas
Ao som de violões e canções inesquecíveis,
Da Voz do Violão,
Da Malandrinha e do Luar do Sertão.
Quantas poesias derramadas
Em noites de estrelas,
Testemunhas silenciosas que não se apagam.
Avenida do Bar da esquina,
Confluência com a Carlos Gomes,
Onde cantei minhas últimas canções
Com um amigo castelhano
Que nunca mais encontrei,
Porque viajei e se passaram vinte anos
E depois, mais trinta e cinco,
E o tempo não retroage para o encontro
Dos que se perderam pelos caminhos e descaminhos.
Avenida dos meus amores,
Que se foram sem despedidas
E sem retornos.

Em tua linha reta, Avenida,
Resta a amplitude de um comércio,
Responsável pela migração
Residencial que abrigou
Homens e mulheres
Que se apaixonaram,
Que formaram famílias,
Que foram expulsas,
Pelo burburinho
Dos carros, carroças e caminhões...
Pelo solo ocupado
Por barracas desordenadas
E milhares de passantes
No indo e vindo
Sem rumo certo,
Em busca da chita
E do equipamento eletrônico importado,
Que aliena e massifica
A turba ignara, que não versifica,
Que não rima e não canta as nossas musas,
Porque vão perdidos,
Entre tantos desencontrados.

Avenida de Becos transversais
Que abrigaram famílias e bordéis,
Oficinas e Bares que abrigavam a boemia;
Da travessa do ABC,
Do Beco do França,
Do Beco do Ginásio,
Do Pilão Sem Tampa.
Avenida do Maternal Bebê Conforto,
Da saudosa Pro Izabel,
Que confortavelmente abrigou
O meu bebê que se fez adulta
E que se fez mulher,
Bela e competente para a lida e para a vida.
Avenida que se perdeu
No progresso dos homens
E na decadência urbanística
E humanística, vendida a qualquer preço,
Que o presente esqueceu
E o futuro consagrou
Como o último reduto dos que se foram,
Mas vive nas páginas destes versos
Que escrevo e que são meus.

Feira de Santana, 02 de dezembro de 2017.