domingo, 22 de novembro de 2009

CAPÍTULO V




RIO DE JANEIRO – IDA E VOLTA.

Saí de Feira de Santana no início de abril de 1961 para uma tournée no Sul da Bahia, com apresentações em Ubatã, Ipiau e Itabuna, todas nos cinemas locais.Em Feira deixava seis namoradas, uma noiva em Ubatã e outra em Ipiau. Levava comigo alguns músicos, sendo que me acompanharam para o Rio de Janeiro – Silvio Moreno (violonista) e Carlos Santiago (cantor). Ficamos hospedados na casa de um irmão de Carlos no distante bairro de Padre Miguel, por aproximadamente 15 dias. Eu vivi toda situação já relatada, com intensa atividade artística.Carlos não conseguiu o seu intento e foi trabalhar em uma oficina como lanterneiro, morrendo anos depois. Silvio foi para São Paulo depois de longa temporada no Rio, casando-se com uma cantora, teve filhos e reside por lá.Eu voltei para a Bahia em 1969 tentando um recomeço, casando com uma mineira que trouxe do Rio, deixando por lá uma companheira e uma noiva, pagando caro pela irresponsabilidade e a ingratidão, embora pelas circunstâncias, de ter sido forçado a abandonar a vida artística que era o meu maior objetivo pelo dom recebido de ter uma voz privilegiada para ser o maior cantor do Brasil. Frustrado em empreendimentos que tentei na “boa terra” (Salvador), volto para o Rio ainda no final de 1969, aí permanecendo até o ano de 1973, morando no bairro de Santa Tereza. Marivone morreu, mas “o espetáculo” tinha que continuar. A noiva que tinha ido de Feira para o Rio na esperança de um casamento sofreu a dor da traição, teve que começar tudo de novo, incluindo novo emprego em Salvador-Bahia e foi feliz à sua maneira, se reorganizou, embora nunca tenha se casado.Eu casei sete vezes para acertar na última, 25 anos depois. Paguei caro pelas minhas irresponsabilidades.Em 1973 fui para Belo Horizonte e fui aprovado duplamente em vestibular de Direito – na UCMG – UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS e FADOM – FACULDADE DE DIREITO DO OESTE DE MINAS, onde estudei até a 5ª série, interrompida por constantes viagens para Brasília por um ano, que perturbaram e adiaram a conclusão dos estudos jurídicos. Bacharelei-me em direito pela Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna, após desentendimento com o Superintendente Acadêmico da UCSA sobrinho de Mons.Veiga, depois de aprovada a minha transferência para esta unidade de ensino. Recebi o diploma em abril de 1981, com sete anos e quatro meses de estudo. Acrescentando ao curriculum Direito Agrário e Previdenciário.

MARIA


Minh’alma é rosa que geada esfria...
Dá-lhe em teus seios um asilo brando...
Leva-me! Leva-me, ó gentil Maria!...

(Castro Alves)

Maria
frô brejêra
frô sôdade
frô Maria.



Maria
se eu te pego
eu me dano todo...
eu nem sei Maria
que diabo é que eu fazia!?

Eu te beijava!
eu te abraçava!
eu te mordia!...
eu te cheirava!
eu te amassava!
eu te sentia!...

No fim, eu te tomava,
eu te bebia,
pra que tu fosse minha ...
ó frô das frores bela ...
a frô que é tu Maria.


Rio de Janeiro. 11.11.64

domingo, 1 de novembro de 2009

Milton Brito no Programa Clube das Garotas acompanhando ao violão Nelson Ned


VIDA VIVIDA - continuação.

Participei da inauguração da TV Globo, sendo um artista sempre freqüente na festa de final de ano do Jornal O Globo (antes da inauguração da TV), desde o ano de 1963, indo com Sarita para esta emissora em 1965 com o Programa Clube das Garotas. Estive na Rádio Tupy com Jair Amorim cantando com o Regional de Canhoto com a participação de Dino Sete Cordas e Chiquinho do Acordeom.
São meus novos amigos – a Cantora Linda Batista e o Cantor Jairo Aguiar com quem excursionei para o estado da Bahia, Adilson Ramos, os componentes dos Goldens Boys - Renato, Roberto, Ronaldo e Valdir, Trio Esperança com Evinha, Mario e Regina (eram todos da mesma família, irmãos, sendo que Valdir era primo) realizando com estes vários shows em rádios e clubes, incluindo no grupo Roberto Carlos que muitas vezes se apresentou sem ganhar o cachê, enquanto eu percebia CR$ 5.000,00 por apresentação como aconteceu no Clube da Tijuca, num Show promovido por um programador e diretor da Rádio Carioca.

Quando da temporada na Boate Plaza, às quartas-feiras no Clube do Disco e quintas-feiras no Clube do Cinema, sob o comando de Oliveira Filho – radialista famoso, Jorge Bem (atual Jorge Bejor) iniciava a sua carreira artística e ficava pedindo uma “canja”, ou seja, pedia para deixá-lo cantar, sem ter o aval da maioria. Ali fui ovacionado como grande cantor e violonista. Sempre presente Wilsa Carla, (vedete famosíssima), a elite e o mundo artístico.
Na Boate Michel tendo como anfitriã Madame Mimi, dona da Boate, mulher de valor inigualável, eu era o cantor oficial, e fui contratado, por três anos, com freqüência de intelectuais, jornalistas, compositores, cantores, ministros e políticos principalmente ligados a João Goulart. Em 1967 a ditadura fechou o Michel, tendo como real motivo a freqüência de pessoas contrárias ao regime militar. Quebraram toda a instalação a picaretas e machados, num ato de vandalismo sem precedentes. Madame Mimi recolheu-se em sua residência no Leblon, abandonando a vida noturna como profissional proprietária de casa de Show, e eu conseguindo salvar meu violão que foi levado pelos vândalos, continuei cumprindo o contrato com o Le Rond Point que teve a freqüência vigiada e diminuída, fazendo com que eu atendesse ao convite do Restaurante Cabana em Ipanema, na Praça Nossa Senhora da Paz, sendo contratado como cantor e violonista, junto com um cantor espanhol, sendo que a sócia da casa noturna (espanhola) também cantava. Freqüentava o local em início de carreira Maria Betania, Rosa Passos (que namorava Fabrício e que eu desejava como amiga e como amante), Mário Prioli, este, sócio de um boliche que ficava ao lado da igreja Nossa Senhora da Paz e que mais tarde construiria a casa de espetáculos “Canecão”, figura simpática de muitas noitadas em companhia de mulheres lindas, com a sua invenção de fazer cascatas com champanhes escorrendo pelas taças colocadas uma em cima da outra formando uma torre.
Sentindo as mudanças na cultura do país, com a influência da música americana, principalmente do rock e com o crescimento do movimento da bossa nova, cujos estilos estavam divorciados do meu gosto musical, retomei os estudos com certa exclusividade, cursando filosofia, línguas latinas, especialmente o francês, italiano e espanhol, além de latim e grego, fundando um curso de madureza na Rua do Catete, no bairro do Flamengo com o amigo e colega de faculdade – Cludelson Pessoa do Amaral, cidadão de inteligência privilegiada, com quem dividi a profissão de professor, lecionando na Paróquia da Glória, inglês (ele) e francês (eu), enquanto que no cursinho preparatório, além das matérias básicas para exame de madureza para o 1º e 2º grau, ministrávamos aulas de taquigrafia do método Leite Alves. Nesta época, no ano de 1968, elementos do DOPS e do SNI, Órgãos da repressão ditatorial, invadiram o Salão Paroquial, conduzindo a maioria dos professores, incluindo o Pároco e alguns alunos, para o Campo do Botafogo, em General Severiano, atribuindo a todos a pecha de comunistas, escapando ilesos, por sorte, eu e Amaral, porque nos encontrávamos no Cursinho de Madureza, sendo avisados da ocorrência, oportunizando as nossas fugas, para não sermos presos. Os materiais fotográficos, jornalísticos, fonográficos e de publicidade, da minha vida artística, assim como, a rica biblioteca de raros exemplares, tudo se perdeu, ficaram no apartamento da Rua Ferreira Viana, em virtude da minha mudança brusca de endereço. Quando retornei, para tentar recompor o rumo de minha vida, a mulher com quem eu vivi durante oito anos – Marivone da Rosa Medina, havia morrido de cirrose hepática por ingestão excessiva de bebida alcoólica, levada pela solidão e pelas decepções que a vida lhe impôs.
Nesta época o regime militar, com sua censura implacável, fechou a Rádio Mayrink Veiga, Rádio Nacional, TV Continental, eliminando a possibilidade de meu reencontro com a televisão, interferindo no setor de comunicação, na vida cultural e artística do país, principalmente no Rio de Janeiro.
Aquele que iniciou a sua carreira artística no Rio cantando no Dancing Avenida, levado pelo cantor Jamelão em abril de 1961, (onde a crooner era Alaíde Costa), encerrava definitivamente a atividade profissional de músico e cantor, ali, no ano de 1969.