domingo, 13 de fevereiro de 2011

MEIA TRÊS





Meia três!... Ponto de encontro de mariposas e zangões. Ladeira da Montanha, Salvador-Bahia, décadas de 50 e 60. Numa casa estilo antigo, simples, humilde, abrigo de muitas mulheres, “perdidas”, desencontradas das famílias e encontradas na “Zona”, também chamado Baixo Meretriz, Prostíbulo, Lupanar (termo bastante usado pelo poeta Augusto dos Anjos), casa de encontros amorosos entre homens e mulheres vindas de todas as plagas, para o deleite dos iniciados na arte do sexo e para o exercício sexual dos boêmios versados no Kamasutra. Lá de cima, imóvel, o Condoreiro, o vate dos escravos, em estátua, como que observando o andar de gente passante a bebericar, a sorrir e a cantar a sua prima alegria ou seu ultimo fracasso, repetindo a gravação na voz de Chico Viola, nos versos de Mario Lago – “Relembro sem saudade, o nosso amor; o nosso ultimo beijo e ultimo abraço; porque só nos restou da história triste deste amor, a história dolorosa de um fracasso!...”. Assim, segue o seresteiro vindo das noites/madrugadas, da Mouraria, onde, com violão bem tocado e voz grave, encanta a sua morena na sua baianidade de mulata bonita, roliça e arredondada, de contornos gloriosos. Antes do sereno, a apresentação na Boate Clok, no Largo dos Aflitos, que o tempo levou e transformou no atual “Bahia Café”, e, sem negligenciar, uma passagem pelo “Tabaris Nigth Club”, que ficava ao lado do Teatro Guarani, na Praça Castro Alves, próximo do edifício do Jornal “A Tarde”, de Simões Filho, para o tango portenho, da orquestra bem regida do maestro. Para se ir ali tinha que ter “negócio”, grana, ousadia, perspicácia e preparo no jogo de capoeira de Mestre Bimba, para não se embaraçar na malandragem e sair apanhado, surrado, de tapa e pontapé. Orquestra com músicos e cantores bem vestidos, de Smoking. Cantores como Ray Miranda e Osvaldo Fahel, passaram por ali. No centro a pista de dança para o bolero, o tango, a salsa e a rumba, com mulatas rebolativas. Depois da dança gostosa, a salvação era o - 63 “meia três”, quando, com alguns cruzeiros se chegava ao ápice da - “junção carnal”. O Tabaris, em 1968 fechou as portas e na parte da frente abriram o Bar e Restaurante Cacique, onde se encontravam estudantes para o lanche e o bate papo, ficando as noites para os intelectuais e boêmios. Também não vingou. Ficou o poeta em estátua, guardando a praça para os encontros carnavalescos dos Trios Elétricos, - esta geringonça barulhenta que acabou com o romantismo das danças, nos bailes dos Clubes - Português, Fantoche, Baiano de Tênis e tantos outros, ao som de Chiquita Bacana, Sasaricando, A Estrela Dalva, Jardineira, etc., para os pulos enlouquecidos de bêbados ensandecidos em cotoveladas sangrentas, até se organizarem em cordões os foliões como se fossem gados em correrias ao estrondo de mil decibéis, todos surdos.
Encerro com Adelino Moreira: “Vai longe o tempo em que se a noite era de prata, violões em serenatas enchiam o céu de amor...”.


Praça Castro Alves - Salvador - Bahia - Brasil
O Tabaris localizava-se atrás do primeiro prédio, à direita, na foto acima.
O Tabaris Night Club foi fechado oficialmente em 1968, porSandoval Leão de Caldas, seu último proprietário. Uma dasmaiores Casas de Espetáculos da Bahia, situada em Salvador,sua capital. O prédio onde funcionou o Tabaris fica na PraçaCastro Alves, sua fachada assiste o mar da Baía de Todos osSantos. Ainda está lá. Mas o Tabaris vive só na memória dosque sobreviveram. Seu clima noir...surgiu junto com os anos 50,os anos dourados. Presto aqui uma homenagem àquela casaque conheci, e freqüentei, sendo seu último dono Sandoval.


Feira, 26.01.2011.




REVIVENDO STANISLAU


REVIVENDO STANISLAW


Hoje me deu uma saudade imensa do Rio de Janeiro e resolvi escrever este texto.

Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Marcus Rangel Porto, também conhecido como Sergio Porto. ATIVIDADE PROFISSIONAL: Jornalista, radialista, televisista (o termo ainda não existe, mas a atividade dizem que sim), teatrólogo ora em recesso, humorista, publicista e bancário,(definição dada pelo próprio). Conheci esta figura insuperável nos idos de 1963 em pleno Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, pouco tempo antes da “gloriosa”, nome usado pelo próprio para definir a ditadura de 1964, época de repressão, momento negro de nossa história que enterrou a intelectualidade e fez crescer o semi-analfabetismo conveniente aos imperialistas. Ele escrevia para o melhor Jornal de então – ULTIMA HORA, de Samuel Wainer, marido de Danuza Leão paixão de Antonio Maria outro jornalista espetacular. Para se ter uma idéia da importância deste Jornal, basta saber quem eram os demais colaboradores: - Tristão de Ataíde ou Amoroso Lima, da Academia Brasileira de Letras; Otto Maria Carpeaux, Paulo Francis o que raciocinava em bloco, - todos poliglotas, escritores conceituados. Nesta década eu lia Jornal do Brasil, Correio da Manhã, O Jornal, Ultima Hora, Lê Monde, Figaro, La Nation e o Time publicado em espanhol. Preferi sempre a Ultima Hora pela sua equipe e Stanislaw brilhava com as suas Crônicas e a publicação das “Certinhas do Lalau”, exibindo estonteantes vedetes de deixar água na boca e o corpo tremulo de um prazer frustrado. Lembro-me de Aizita Nascimento (Miss Guanabara), Betty Faria (Atriz), Brigitte Blair, Carmen Verônica, Eloina, Íris Bruzzi, Mara Rúbia (vedetes), Miriam Pérsia, Norma Bengell, Rose Rondelli, Sônia Mamede (Atrizes) e Virgínia Lane (conhecida Vedete do Brasil, que se gaba de ter sido a preferida de Getulio Vargas, com quem teve um caso amoroso). Sergio Porto ou Stanislaw era freqüentador assíduo do Michel e do Lê Rond Point, adorava um bom Uísque e mulheres bonitas. Dizem que “morreu de Coração e Trabalho”, laborando uma média de 15 horas por dia, fazendo o que mais gostava – escrever para jornais, revistas, rádio e televisão, inclusive para o programa de Chico Anísio.

Sua Obra:
Como Stanislaw Ponte Preta:
- Tia Zulmira e Eu - Editora do Autor, 1961- Primo Altamirando e Elas - Editora do Autor, 1962- Rosamundo e os Outros - Editora do Autor, 1963- Garoto Linha Dura - Editora do Autor, 1964- FEBEAPÁ1 (Primeiro Festival de Besteira Que Assola o País), Editora do Autor, 1966- FEBEAPÁ2 (Segundo Festival de Besteira Que Assola o Pais), Editora Sabiá, 1967- Na Terra do Crioulo Doido - FEBEAPÁ3 - A Máquina de Fazer Doido - Editora Sabiá, 1968
Com o nome de Sérgio Porto:
- A Casa Demolida - Editora do Autor/1963 (Reedição ampliada e revista de O Homem ao Lado - Livraria. José Olympio Editores)- As Cariocas - Editora Civilização Brasileira, 1967
Aqui vai uma certinha do Lalau –



Milton Britto, Feira, outubro de 2010.