terça-feira, 1 de janeiro de 2013

CINEMA AZTECA

Rua do Catete, nº 228, Bairro do Flamengo, Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, Brasil. Ali estava plantado o Cine AZTECA, próximo da minha residência na Rua Ferreira Viana, para onde eu ia, nos dias de folga, assistir bons filmes, no conforto de uma sala de projeção cinematográfica, que deixa saudade. Em 1964, início do período negro da ditadura militar, no império da censura e do silencio da arte, e da expressão livre, surge o baiano Glauber Rocha, idealista e cineasta consagrado pela intelectualidade, espalhando conceitos e verdades da vida brasileira, anunciando o despertar de uma realidade nua e crua, do nosso povo sofrido, - o guerreiro nordestino, que não desiste. Como dizia Guimarães Rosa - “O sertanejo antes de tudo é um forte.” Glauber lança no Cine Azteca o filme – DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL, cujo resumo se encontra bem detalhado pelo jornalista e crítico de cinema – João Carlos Sampaio. Vide texto abaixo: O mais célebre filme de Glauber Rocha e talvez o título brasileiro mais conhecido no mundo, Deus e o diabo na terra do sol é um extravagante exercício autoral, no qual se misturam influências do cinema realista, do faroeste norte-americano, da literatura de cordel, da dramaturgia, do teatro simbolista. O Sertão Nordestino no Brasil dos anos 1940 é o cenário para a saga do vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey) e sua esposa (Yoná Magalhães). Castigado pela seca inclemente, pela condição de pobreza e exploração da sua força de trabalho, o camponês sangra o latifundiário que o oprime e foge com a mulher. Nas andanças o casal vai encontrar um líder messiânico (Lídio Silva), que promete prosperidade e boa vida aos que o seguirem. Eles resolvem se tornar discípulos, até que a mulher se rebela com os rituais exóticos e resolve apunhalar o religioso. Novamente, os protagonistas ficam à deriva. É quando vão encontrar o cangaceiro Corisco (Othon Bastos), cuja vida consiste em saquear para tirar o sustento. Parece uma alternativa razoável para o casal desvalido, até que surge a figura do matador de aluguel (Maurício do Valle), justiceiro decidido a matar o cangaceiro. DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL - é um filme repleto de simbologia, que usa os personagens para recriar as forças conflitantes no Nordeste empobrecido. O líder messiânico representa Deus como solução para as injustiças sociais; o cangaceiro é o satanás, ou seja, a solução pela força. O matador de aluguel restitui o equilíbrio, afirmando que nem Deus, nem o seu algoz, são donos da razão. Da fome e da miséria, Glauber supõe que virá a revolta. A ira como alimento suficiente para o homem comum, representado pelo vaqueiro Manuel, contestar a sua própria condição. Ele é quem irá se salvar em meio a essa peleja entre Deus e o diabo, metáfora simbólica à crença democrática, de que o povo é quem detém o poder e a força para persistir, superando os desmandos e adversidades. Pois bem! A censura veio e tirou de circulação a película. Com a perseguição ao autor pelos militares, Glauber foi obrigado a refugiar-se em outro país. Durante 20 longos anos, sepultaram a liberdade de expressão, conduziram o povo ao semi-analfabetismo, e ao pior, – analfabetismo político, com o poder público entregue à degradação total. Glauber morreu de septicemia, em 1981, aos 42 anos de idade, no Hospital Bambina, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, após ser transferido de um hospital de Lisboa, Portugal, país onde vivia desde o seu exílio em 1971. Deus e o Diabo continuam vivendo na terra do sol Feira, 14.12.2012.

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