sexta-feira, 23 de agosto de 2019

PARODIANDO GIBRAN




Minhas filhas são minhas filhas,
Vindas de mim, das minhas entranhas,
Fruto do meu fruto, de uma árvore milenar,
Que conheço por ouvir dizer
Porque o tempo não nos permite caminhar
Na sua estrada.

Nascidas, crescidas e vivenciadas,
Firmam-se compassadamente.
Engatinham, andam, correm e pensam
Por nós e além de nós,
Ora encontradas, ora desencontradas,
Firmam-se em suas próprias idéias
Herdadas ou deserdadas.

Eu sou o arco e elas as flechas
Arremessadas, que atingirão alvos diferentes,
Porque seguem rumo diverso,
Cada uma numa direção,
Sabendo o ponto de partida
Sem avistar a chegada.
Vindas do ontem
Residem no hoje
Na casa do amanhã
Abrigo de sonhos
Coloridos que o presente
Muitas vezes pinta
Com a tinta do passado
Já esquecido. 


Feira, 2014.


POEMA Nº 26





Eu prefiro um mundo
Sem deuses e sem mitos,
Sem crenças absurdas,
Sem idolatria;
Um mundo mais humano,
Mais inteligente, mais inteligível,
E que a crença cresça
No homem pelo homem
E cresça e desenvolva
Sem espaço vazio,
Sem imaginação caótica.
Eu prefiro um mundo
Sem deuses e sem mitos.
Que se desperte para a cosmologia
E a ciência seja o infinito
Dos mais cultos (já que não pode ser de todos).
Que seja menos fria
A mente do covarde,
E não se proponha deuses assassinos
E não se pinte belezas inexistentes.
Que se dissolva a ordem dos incultos
E criem-se soluções
Para as nossas realidades.
Eu prefiro um mundo
Sem deuses e sem mitos,
Sem perspectiva bíblica,
Sem opinião mentida,
Sem suposição,
Com base científica e mente filosófica,
Sem fome e sem demência,
Mas com solução.
Que as palavras
Ganhem os seus sentidos verdadeiros,
Plenos para a vida e para o homem.
Eu prefiro um mundo
Sem deuses e sem mitos
Mais humanizado.


(Poema publicado na Revista das Academias de Letras da Bahia), em 1998.