domingo, 22 de agosto de 2010


O MOTRIZ E A MARINETE


Na década de 40 para 50, em terras da Princesa do Sertão, para se ir à Bahia, como se dizia naqueles tempos quando se viajava para a capital – cidade de Salvador tinha-se duas opções: o trem denominado “Motriz” e a “Marinete” um tipo de transporte coletivo que nos dias de hoje conhecemos como Ônibus. A Estação Ferroviária era instalada nos fundos da Igreja da Matriz, em galpão amplo, com bilheteria, bancos e um espaço amplo para o trânsito dos viajantes que esperavam a partida para a capital, passando por diversos lugares, a exemplo de Paripe, Piripiri e outros, até o final de linha na Calçada próximo ao Largo de Tanque. Os compartimentos do trem eram bem arrumados, com poltronas duplas e em algumas cabines tinham mesas para o serviço de primeira classe, com almoço, sobremesa e um bom café. Logo na saída ainda nas proximidades de Santana dos Olhos D água, na localidade do Tomba havia uma imensa Caixa D’água para abastecer as caldeiras da locomotiva alimentada à lenha. Após ligeira parada seguia viagem que durava, salvo engano, 3 horas. Tenho ainda lembranças do tempo de criança quando por ali, em companhia de meu pai, viajei, e na espera da partida ficava deslumbrado com o trânsito de pessoas bem vestidas, herdeiros dos costumes europeus de boa civilização. Encantava-me o barulho das máquinas, a marcha e o apito do trem – piuiiiii...., conduzindo viajantes em recreio, em face de negócios a realizar e até mesmo para consultas médicas.
As Marinetes ficavam estacionadas na Praça da Bandeira, uma ao lado da outra a espera dos passageiros, muitas vezes com sua capa de gabardine, além da mala com roupas, até completar a lotação seguindo para a capital em viagem que durava aproximadamente 4 horas em estrada de chão batido, cujo percurso compreendia Lapa (atual Amélia Rodrigues), São Sebastião com parada obrigatória para almoço, café ou lanche (um pão bem quentinho e um copo com café ao leite), dependendo do horário, seguindo até Água Fria, na entrada de Salvador e de lá para o centro eram todos conduzidos por “Carros de Praça” (denominação dada para o que hoje se conhece como Táxi). Em Salvador hospedava-se na Pensão de Bonifácio próxima do Relógio de São Pedro e no Hotel Plaza instalado na Rua Chile, principal artéria de comércio próspero e luxuoso, enquanto o comércio popular ficava na Baixa do Sapateiro, tão cantada nos versos de Ari Barroso. Querendo ia-se para a cidade baixa pelo Elevador Lacerda ou Plano Inclinado, para degustar um excelente acarajé com bastante pimenta, assistindo o jogo de capoeira de mestre Pastinha. No desembarque, necessariamente, na ida ou na volta, cobertos de poeiras vermelhas, os passageiros tinham por obrigação - tomarem um belo banho.

DE TREM OU MARINETE, DESTINO - BAHIA DE TODOS OS SANTOS.