quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

SEM SAÍDA

Meu pai, na década de 30, saiu de Santanópolis, Distrito de Irará, Bahia, com destino a Feira de Santana, casando-se pela segunda vez, mudando-se para Bananeiras, onde teve a primeira filha. Voltou para Feira, teve o segundo filho, foi para Cachoeira, teve o terceiro filho e em 1940, transferiu-se para a Cidade Princesa, definitivamente, falecendo em Cachoeira na década de 70, vítima de acidente de veículo. Eu, terceiro filho, após vinte anos de ausência, desde 1961,residindo no Rio de Janeiro, retorno para a cidade de Senhora Santana, ainda serena, cosmopolita, mas, acolhedora, chegando em 2012, cambaleante, trôpega, enferma, quase moribunda, enquanto civilização, com alto índice de criminalidade, num país que finge estar em paz, contudo, enfrenta verdadeira guerra urbana, superando maior numero de mortes do que o registrado na guerra do Vietnã. Ainda me lembro da Rua Direita, onde morávamos, tendo na sua extensão casas residenciais, de famílias tradicionais, vivendo em harmonia, todos católicos praticantes, frequentando as Igrejas da Matriz e dos Remédios, em missas, novenas, casamentos e batizados, confessados e comungados, segundo as leis do Vaticano. Havia quermesses, retretas, encontros, e não me lembro de nenhum desencontro, porque havia respeito entre os moradores, que se confraternizavam como se fossem de uma só família. O Padre era a autoridade mais respeitada, a quem se buscava conselho e penitência, se por acaso se desconfiassem de um deslize ou de um pecado, que nunca era mortal. No mês de abril de cada ano, havia a festa da Micareta, com carros alegóricos, que desfilavam pela Rua Direita, para o deslumbre da comunidade. Na Praça da Matriz, em janeiro, dava-se a Festa de Santana, com cadeiras em volta do Coreto, onde jovens e adultos, homens e mulheres, ao som de dobrados e marchas carnavalescas, executados pelas filarmônicas, se deliciavam, atirando confetes, serpentinas e lança-perfumes, em brincadeiras e paqueras inocentes. O tempo, muitas vezes cruel, impiedosamente, assiste a glória de uns e a miséria de outros, que, quase sempre em sua maioria queda, sem solução viável, que possa recompor a sociedade digna do ser humano. Chego ao século XXI (vinte e um), em total desespero, nas avenidas, ruas e vielas, de desencontros e violências, sem o “bom dia” do meu vizinho, que me olha desconfiado, e que perturba meu sono e meu sossego, com seus modos egoísticos de agressor, porque seus hábitos confrontam os meus. O transeunte atropela e é atropelado, pela correria do dia a dia, de carro, moto e bicicleta, com a sonoridade de um equipamento, que identifica o grau de desequilíbrio mental, em que vive a sociedade chamada moderna. Adolescentes da minha rua furtam as mangas do meu terreno ao lado, arrebentam o arame, que se encontra no muro como proteção, contra invasores e permanecem impunes, porque quem os conduz é o crak, a cocaína e a maconha, que os pais e as autoridades, por incompetência não sabem como combater. As vias públicas estão tomadas por clandestino comércio de mercadorias falsificadas, e as praças não são abrigos de repousantes senhores ou senhoras, que podem ser assaltadas a qualquer momento, ocupam-nas barraqueiros, camelôs e servem aos alcoólatras desocupados, que recebem benesses de um governo assistencialista que não dá emprego, dá esmola, enquanto o analfabetismo impera para a glória dos capitalistas corruptos que servem a Tio Sam. O motorista que vai ao seu carrão, ao lado do meu modesto veículo, avança lateralmente, para que eu lhe dê passagem e o de trás, buzina insistentemente, porque a sua pressa é maior que a minha, sem observar que me encontro impossibilitado de avançar, porque à minha frente, tem outro carro parado em fila dupla, na desorganização de um trânsito maluco. Confesso que estou irremediavelmente SEM SAÍDA.