sábado, 30 de abril de 2011

MARCUS TULIUS CICERO E OS CATILINAS DE HOJE.


"Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?"


No ano de 63 A.C. Roma não era um Império. Era uma República (Res - Publica = Coisa Pública).

Na República Romana o mais alto cargo que um Senador ou um político podia almejar era o de Cônsul.
Havia uma conspiração contra a Republica e Catilina pretendia liderar.
Neste ano de 63 A.C. um dos dois cônsules eleitos pelo Senado era um homem chamado Marcus Tullius Cicero, que passou à posteridade simplesmente como Cícero, o maior de todos os oradores romanos, e o mais respeitado jurista da República. Foi também grande estadista, filósofo e político.

Ocorre que um nobre cuja família havia empobrecido e perdido a influência chamado Lucius Sergius Catilina ambicionava também o cargo de Cônsul. Para tentar conseguir seus fins, liderou uma conspiração a fim de executar um golpe de estado, para que ele próprio pudesse alcançar o cargo de cônsul. Mas além de corrupto era indiscreto, e sua conspiração logo ficou conhecida de todos.
Cícero então pronunciou no Senado uma série de discursos, as famosas "Catilinárias", denunciando Catilina, e a Primeira Catilinária começa com uma frase famosa:

"Quosque tandem, Catilina, abutere patientia nostra?"
"Até quando, Catilina, abusarás de nossa paciência?"

Em conseqüência dos discursos de Cícero em defesa da República, Catilina teve de abandonar Roma para nunca mais voltar, exilando-se na Grécia.


O Coronel Hugo Chavez, Presidente da Venezuela, é hábil em criar factóides, a falar leviandades, e desrespeitar homens e instituições.

No dia 11 de Novembro de 2007, em uma reunião com Chefes de Estado de língua Ibérica, o Rei de Espanha não se conteve e disse-lhe: "Calate!"

Seguindo o exemplo do Rei de Espanha, está na hora de nós cidadãos, que pagamos o salário de parlamentares, inclusive de irresponsáveis detratores, lhe dizermos "Calate!"

Quosque tandem, da Silva, abutere patientia nostra?

É preciso parar os criadores de factóides e os próprios.

Em 1972, no Poema Nº 14, já vaticinava o Poeta:

“...Este espectro da vida/este misto de sordidez/e fingimento;/este galanteador das prostitutas;/este lacaio da nobreza espiritual;/este Maria vai com as outras/este foragido da sinceridade;/este cancro da tranqüilidade;/este filho da puta/este Caim do século XX;/este enganador/este canalha;/este que não pensa/faz ofensa;/este que engabela/e mente;/este esgoto do vernáculo;/este festival de frustrações;/este donzelo do respeito ao próximo;/este castrado do amor platônico;/este puto do dia a dia;/É a representação mínima/da gleba ignara/ que vive em meus versos/ o nojo e a tristeza/ do Ser.
O crápula deve ser exilado do povo. REFLITAM!...

Feira de Santana, 23/04/2011.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

REVIVENDO SHAKESPEARE


Não faz muito tempo, um jovem mancebo, foi presenteado com fotos e documentos, de um grande amor da adolescência, que se foi cedo desta vida. Conheceram-se no final da década de 50. Ele, que não era filho dos Montéquius, jovem, vindo dos seus estudos secundários realizados na Capital, em Salvador, retornando à querida Feira de Santana, Princesa do Sertão, enamorando-se de diversas moças, lindas e fagueiras desce chão de Georgina Erisman e Maria Quitéria, dentre tantas, a moçoila da Avenida Senhor dos Passos, que não era filha dos Capuletos, foi a preferida, a mais querida, pela sua meiguice, honestidade e dedicação aos estudos, a família e aos amigos, de fidelidade impar e ingenuidade ainda maior. Poderia ter sido a sua companheira para o resto da vida, mas os seus destinos, traçados previamente pela mão do acaso, tinha rumo divergente. Ele, seguiu para o Rio de Janeiro, abraçando a carreira artística e os estudos complementares até a universidade da vida e dos ensinos especializados. Foi cantor, compositor, musico, poeta, filósofo e poliglota, viveu amores cariocas, esbanjou a mocidade, retornando, vinte anos depois para o torrão natal por adoção, cumprindo o destino que vaticina – “o bom filho à casa torna” . Ela, a jovem da avenida cantada pela poetisa Irmã Amorim, tomou outro rumo, por não ter outra opção, vez que o seu amado não mais alimentava esperança de um retorno breve. A vida tinha que seguir. Ela se casou com outro, por força das circunstâncias, para constituir família. Viveu pouco. Em um momento de infelicidade que dona divergência prepara sem pré-aviso, faleceu na estrada que leva para a outrora cidade de Almas, hoje denominada Anguera. Ficou a saudade de um grande romance que poderia ter sido romanceado pela sua pureza e grandiosidade. Em data recente, ele, recebeu outra foto da doce criança, mulher, exemplo de cidadã, gente na acepção da palavra, nobre no seu vestir e no seu porte. Foi ai que o Romeu do século XXI, resolveu prestar a ultima homenagem àquela que foi a sua Julieta, para que leia lá no céu, onde deve se encontrar arrodeada de anjos e querubins. Encerrando disse: Por mim, para mim e para ela, uma poesia do Poeta maior, autor dos Lusíadas, peça literária universalmente analisada pela intelectualidade, da casta língua lusitana.


Alma minha gentil, que te partiste



Tão cedo desta vida, descontente,

Repousa lá no Céu eternamente

e viva eu cá na terra sempre triste.



e lá no assento etéreo, onde subiste,


Memória desta vida se consente,


Não te esqueças daquele amor ardente


Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te


Alguma cousa a dor que me ficou


Da mágoa, sem remédio, de perder-te,


Roga a Deus, que teus anos encurtou,


Que tão cedo de cá me leve a ver-te,


Quão cedo de meus olhos te levou.



Luís Vaz de Camões(1524-1580) “Amar é ser vencida a razão pela tolice” (Shakespeaare, em “Os dois cavaleiros de Verona” 1594-1595)). “Se não te lembram as menores tolices que o amor te levou a fazer, é que jamais amaste” (Shakespeare – em “Como Gostais” – 1599-1600).

Feira, 30 de março de 2011.

domingo, 10 de abril de 2011

CIRCO NERINO


Ali, logo ao lado da Igreja da Matriz, onde se instalou a Praça Padre Ovídio, onde ganhei o meu primeiro beijo de Ana Maria, havia uma área imensa, erma, que servia para montagem dos circos que aqui chegavam para a distração das crianças, adultos e idosos. Gente de toda a região aqui aportava, para se deslumbrar com os acrobatas, malabaristas, ilusionistas, mágicos e palhaços, finalizando o espetáculo com uma peça teatral. Em um ano que vai longe, chegou à nossa cidade o Grande Circo Nerino. Via de regra, o nome do circo era o do proprietário que atuava como palhaço, a maior atração da garotada. Nesta oportunidade, apresentou animais de todo tipo, incluindo um leão que seria exibido com o seu domador, que sempre o dominava, sem qualquer risco para os espectadores, mesmo porque o animal ficava numa jaula e vinha para o picadeiro transferido para um cercado de ferro com altura aproximada de cinco metros. Ainda criança, assisti ao espetáculo, com a inclusão de um globo com estrutura de ferro, com motociclistas fazendo acrobacias, cruzando-se em velocidade. Uma coisa incrível. Seguia o show. Apresentou-se o palhaço em companhia de outros, fizeram gracejos e a platéia ria sem parar. Lembro-me quando um deles tentava atingir o palhaço Nerino com a mão no seu rosto e ele se abaixava devolvendo o tapa que atingia o seu opositor. Eu refletia – “é assim, quando alguém injustamente tenta nos atingir, é só abaixarmos e devolver a agressão na mesma proporção, mostrando quem é o bobo”. Era só alegria. De repente, veio o leão, aparentemente manso, não se sabendo o porquê, transforma-se em fera indomável, pulando o cercado, fazendo com que todos se abrigassem na Igreja, templo de reflexão, irmandade, confissão e oração. Passado o perigo, voltamos para o circo, vez que, restava a apresentação da peça teatral. Título da peça – UM BOBO NA CORTE DE ÁVILA. O cenário, ao fundo, apresenta uma localidade citadina e um povo cosmopolita, denominado “santanilho”, ou seja, vindo de Santana. O Rei, que construiu muitos Castelos, levando a alegria dos súditos, quedava-se tranqüilo, enquanto irado sacerdote do apocalipse, arauto de fariseus, pantomima de mãos perversas, praguejava desesperado, pronunciando impropérios, sem qualquer lógica ou razão. Naquele momento verificou-se que entre o Monarca e o sacerdote havia uma grande cortina invisível aos olhos dos incautos. Disse o Rei, dirigindo-se à platéia: “Quem dos senhores, puritanos todos, que sei, não vê que entre minha pessoa e o detrator existe uma distancia luminar entre a razão e o falso”? – O populacho que muitos pensam ser acéfalo, demonstrou sabedoria, recolheu-se por um instante e, ouvindo o Conselho dos Sábios, respondeu – “Meu Senhor! Refletimos bem e sabendo que não se atira pedra em árvore que não dá bom fruto, concluímos que Vossa Majestade se encontra incólume às atribuições falsas deste falastrão engalanado, almofadinha de além túmulo, por onde campeia a maledicência, que tem como único projeto apresentado à Corte, a proibição de exposição de Urna Funerária, por ter medo de sua própria sombra, escondido sempre na sombra alheia”.

Dito isto, baixa-se a cortina e o povo aplaude, ovacionando o Reino.

Feira de Santana, 09 de abril de 2011.