domingo, 16 de outubro de 2011

FELIZ ANIVERSÁRIO ILIANA

“Oh! bendito o que semeia”.
Livros... livros à mão cheia...
e manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
é germe - que faz a palma
é chuva – que faz o mar.”

Castro Alves


FELIZ ANIVERSÁRIO ILIANA

(Para um grande amor não vivenciado)

Não canto parabéns pra você,
Porque é a música mais chata do mundo;
Nem falo de amor vida a vida
Porque não nos pertencemos.
Não rezo missa
Porque odeio o clero vagabundo,
Nem digo tolices
Porque te desejo como amiga
e como eternidade.
Falo do amor... platônico
Que há na gente inteligente
Como a gente.
Falo da confirmação dos nossos entendimentos ,
Apesar da distancia luminar
Que existe entre nossos corpos
De segredos.
Falo da intimidade
Que se houvesse, nos diríamos
Verdades transcendentes.
Falo da identidade que há
Entre os deuses do Olimpo
De nossas consciências.
E a minha ciência
- o amor indefinido
E indiviso...
Mais psíquico que somático,
Mais etéreo que terráqueo,
Embora com saudade
Dos que vivem a matéria bruta
Do corpo a corpo,
Do chão a chão.
Falo do senão
Obrigatório do convencionalismo;
Do meu enredo de família,
Das minhas risadas francas,
Do silencio,
Da gônada do nada
Que une razões sem razão determinada.
Falo de nós dois.

Belo Horizonte, 1974.

ARROUBOS DA JUVENTUDE

O Colégio Ipiranga ficava na Ladeira do Sodré, em Salvador, capital do Estado da Bahia, em um casarão que no século XIX, abrigou a família do Poeta dos Escravos, o Condoreiro – Antonio Frederico de Castro Alves, também conhecido, carinhosamente, como “Cecéu”, que morreu aos 24 anos de idade, no Solar do Sodré. Na parte de traz do prédio, havia uma Rua por onde descíamos para a Ladeira da Preguiça, rumo ao Trapiche, numa ponta de mar já quase poluída pela ação dos homens, mas que ainda dava para se tomar o bom banho, fugindo dos ouriços e das águas vivas, que, via de regra, levava alguns, menos avisados, para o Pronto Socorro de algum Hospital. Fui internado naquela Instituição de Ensino, graças ao engendrado artifício de minha madrasta, que deu início ao afastamento dos filhos de Manoel Brito, viúvo, pai de três crianças órfãs de mãe, do lar paterno. Tinha que procurar me adaptar ao meio e ao ambiente, muitas vezes alegre e outras vezes triste. Nos intervalos das aulas de Latim, Francês, Inglês, Português, História, Geografia, Trabalhos Manuais, Matemática e Canto Orfeônico, íamos para o recreio, combinar, sobre o time de futebol que iria jogar na parte da tarde, antevendo a seleção dos que ficavam nos finais de semana, sem a saída que nos permitia visitar os familiares, e nadar nas águas limpas e gostosas do Porto da Barra, por onde passeavam lindas morenas, para o namoro ou para o delírio dos jovens mancebos, nos ocultos banheiros, pela madrugada. Beduíno, o mais hábil com a bola era um mulato magro, simpático, vindo de Ilhéus-Bahia, com seu irmão – Napoleão, por certo, filhos de prósperos fazendeiros de cacau. Formávamos o time: Adilson (no gol), Geraldo e Astrogildo (na defesa), eu e Beduíno (na linha de frente), isto, em razão de ser o Campo, pequeno, como se fosse uma arena para o Futebol de Salão, hoje, americanizado, denominado Futsal. Era um time de craques, imbatíveis. Beduíno, hoje seria um Neymar; Astrogildo – um Sócrates; Geraldo – um Junior Baiano; eu, como era apelidado – Ademir Menezes. Tão bons, que eram convocados no final de semana, geralmente no domingo, para ter a honra de jogar com o Diretor do Colégio – Dr. Ângelo Alves, apelidado Manga Rosa, por ser branco, ficando vermelho, quando aborrecido ou quando jogava bola. Já era praxe, indeferir o meu requerimento, de saída dos finais de semana, alegando mau comportamento, porque briguei com algum colega, no recreio ou no futebol. Confesso que era um pouco esquentado, mas o motivo maior, era para que eu estivesse presente no time que ele, Ângelo, iria escolher, a maioria das vezes, para ganhar. Adilson era um pretinho, valente, e gostava de brigar, todas as vezes que reclamávamos de um gol que ele deixou passar. Eu topava o confronto, e aí os dois ficavam mais duas semanas com as saídas cortadas, até o dia que me graduei em Jiu Jitsu e Capoeira, quando então, não mais houve confronto, para sorte minha. No ano de 1956 deixei o Colégio, e nunca mais os encontrei, com exceção de Napoleão, com quem me avistei na década de 80, na cidade de Ilhéus, como próspero comerciante e fazendeiro. Ficou a saudade dos tempos do bom futebol, das alegrias vividas e das amizades divididas, que a vida separa em rumos divergentes e o tempo não perdoa.

Feira, 04.10.2011.