domingo, 12 de maio de 2013
EU VOLTEI
Raul Sampaio, um dos maiores compositores, deste país de curta memória, dentre as belas musicas de sua autoria está “Meu Pequeno Cachoeiro”, consagrada na interpretação de Roberto Carlos, seu conterrâneo de Cachoeiro do Itapemirim, cidade que fica no Estado do Espírito Santo. A identidade desta composição com a minha pessoa é no sentido inverso, tomando como base, os primeiros versos.
“Eu passo a vida recordando
de tudo quanto aí deixei
Cachoeiro, Cachoeiro
vim ao Rio de Janeiro
p'ra voltar e não voltei!”.
Tanto Raul, quanto Roberto saíram de Cachoeiro ,“p’ra voltar” e Roberto não voltou. Comigo aconteceu o inverso. Fui p’ro Rio de Janeiro p’ra não voltar e voltei. Os três dedicados ao meio artístico, prontos para o sucesso, mas a vida surpreende os seus passantes, conforme as circunstâncias, regido por astros e por leis cósmicas, pelo homem, a maioria das vezes, inentendível, de tal sorte, que seguem rumos divergentes.
Eu, não soube aproveitar as oportunidades que me foram dadas, negligenciei, não insisti, desisti, talvez, pela primeira vez, de uma tarefa que me foi outorgada pela natureza. Nasci artista, poeta, compositor e cantor com uma voz que me privilegiou nos setores de comunicação por onde passei, de tal sorte, que cheguei a cantar no mesmo clube onde Roberto se apresentava em início de carreira, eu recebendo cinco mil cruzeiros e ele sem cachê.
Cheguei ao Rio no início de 1961, vinte dias depois estava contratado por uma Boate, denominada (CLAUDIU’S BAR), em Copacabana, onde se apresentavam cantores consagrados. Daí abriu-se todas as portas: Radio Nacional – Programas Cezar de Alencar; Paulo Gracindo; Manoel Barcelos; com audiência em todo território nacional; todas as demais Rádios e Televisões, da Cidade Maravilhosa, serviram de palco para minhas apresentações, e para completar, gravei disco na maior gravadora do mundo – RCA Victor.
Veio o movimento da Jovem Guarda, com influência da musica americana do norte e a Bossa Nova, esta, patrocinada por filhinhos de papais ricos, que saiam do ostracismo dos apartamentos luxuosos da zona sul, com influência do Jazz, para as Boates e emissoras comprometidas com a aculturação do Brasil.
Envolvido em movimentos políticos estudantis, com a intelectualidade e o meio artístico tradicional, fui, enterrado vivo, com minhas paixões e ideais, restando o recuo, para a cidade de onde sai – Feira de Santana. Ai, refeito dos traumas e das frustrações, com outra formação profissional, sobrevivi, vendo de perto a glória dos que sabem persistir e o consolo de quem sabe se recompor e seguir novos rumos, com dignidade e sapiência.
Quarenta anos depois de uma ausência forçada, vou ao Rio de Janeiro, P’ra voltar mais uma vez, talvez, de forma definitiva, porque sinto que aqui é o solo que me foi reservado para o ultimo suspiro. Confesso que gostaria de ter nascido e vivido na Suiça, mas cada um tem o destino que merece. Vou matar uma saudade que ainda sufoca o meu coração, embora, não encontre os mesmos caminhos e os descaminhos por onde passei já modificados pelos homens, que transformam a natureza segundo os seus caprichos, conveniências e vantagens financeiras. Não mais Le Rond Point, Michel, Claudius, Cabana, Jirau, Maison de France, Bonde da Gávea, Ônibus Elétrico, Mariza Gata Mansa, Dolores, Sarita, Braguinha com suas marchinhas e seu Carinhoso na parceria com Pixinguinha; não mais Ataulfo e as Pastorinhas; não mais o mais ou o menos. Não mais Marivone, Copacabana e Ipanema. Vou de passagem, aos sebos, para falar com Dostoiéviski, Montesquieu, Rousseau, Voltaire, Manuel Bandeira, Olegário Mariano e suas cigarras cantantes na morada da Gávea; não mais o Zicartola na Rua da Carioca ao som de As Rosas Não Falam, na voz do autor, assistido pela classe boêmia do meu saudoso Rio de janeiro à janeiro.
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