sábado, 9 de janeiro de 2010

UMA HISTORIA A SER RECONTADA


UM INTERVALO PARA FALAR UM POUCO DA HISTÓRIA DA MUSICA POPULAR BRASILEIRA.



Assisti a Mini Série DALVA & HERIVELTO, um dramalhão a ser refeito para melhor informar à sociedade brasileira sobre os verdadeiros fatos da história, senão “ipisis litteris”, mas próximo da verdade. Começando com uma análise crítica temos que a atriz escolhida não fez jus ao papel, pois parecia mais uma “múmia paralítica”, com gestos de principiante “canastrona”, dando a entender que Dalva era uma retardada que não sabia encenar nem interpretar. Depois puseram nos papeis de Francisco Alves (o Rei da Voz) outro canastrão desprovido de voz e assim foi com Orlando Silva (O Cantor das Multidões), Linda Batista, Emilinha Borba e outros. No que tange aos papeis de Ataulfo Alves e Grande Otelo, menos mal.

Vamos aos fatos: Dalva de Oliveira foi uma das componentes do famoso e saudoso Trio de Ouro que viveu momentos áureos na época denominada “Época de Ouro da Musica Popular Brasileira” e dividia esta glória com Herivelto Martins um dos maiores compositores de nosso país. Inicialmente, em 1937, Herivelto junto com Nilo Chagas fundaram a Dupla “Preto e Branco”. Em 1938 Herivelto conhece Dalva e formam o Trio de Ouro, assim batizado pelo grande radialista Cezar Ladeira que era casado com Renata Fronzi artista do cinema brasileiro, que tinha programa na Rádio Mayrink Veiga e posteriormente passou a dividir o sucesso com Cezar de Alencar, Manoel Barcelos e Paulo Gracindo, na Rádio Nacional que tinha a maior audiência no país, em programas que eu participei como cantor na década de 60. A primeira gravação do Trio tinha uma faixa com a composição de Herivelto – “Na Bahia” um samba-jongo em parceria com Humberto Porto, que abriu a porta do sucesso para o conjunto. Em 1938 são contratados pela gravadora Odeon, gravando com Carmem Miranda. Em 1939 são contratados pela Radio Clube do Brasil, gravam Praça XI e Ave Maria no Morro, composições de Herivelto e se consagram. Em 1942 são contratados pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Participaram de vários filmes nacionais. Em 1949 o Trio foi desfeito, na Venezuela, quando já estavam separados Dalva e Herivelto, sendo convidada Noemi Cavalcante para substituir Dalva levando o Trio a ser vaiado na sua primeira reapresentação, embora tenha esta fase durado dois anos. Desfazendo-se, Nilo Chagas segue em dupla com Noemi e depois carreira solo, surgindo Raul Sampaio outro bom compositor para o vocal com a brilhante voz de Lourdinha Bitencourt esposa de Nelson Gonçalves que morava no Edifício Sevilha na Avenida Atlântica no 5º andar enquanto eu morava no 3º em companhia de Marivone da Rosa Medina proprietária da Boite Jirau onde se apresentava Dolores Duran, Ribamar, Ted Moreno, Tito Madi e outros e eu na Boite Michel e Lê Rond Point. Recomposto o Trio, volta ao sucesso. O drama apresentado até a data do acidente de automóvel que eu presenciei junto com Altemar Dutra, Silvio Cezar e Rildo Hora quando o carro passou em alta velocidade pela Av. Nossa Senhora de Copacabana numa madrugada que o tempo levou e nós estávamos na Porta do Lê Rond Point onde eu cantava e Altemar fazia os intervalos de Helena de Lima na Boite Cangaceiro, até ali é uma versão distorcida. Os fatos narrados após o acidente se coadunam com a verdade. Dalva realmente se envolveu com o garçon que passou a ser seu motorista e que estava dirigindo o veículo no dia do acidente embora tenha atribuído a direção à cantora pensando que ela havia falecido. Eles brigavam no interior do veículo e no acidente atropelaram várias pessoas que se encontravam na Igreja que ficava na saída do Túnel Novo de Copacabana para o bairro do Botafogo. Dalva ficou com muitas seqüelas levando-a à morte pouco tempo depois.

A cantora teve muitos envolvimentos amorosos, o que era natural para o meio artístico, como também Herivelto. Ambos foram por demais liberais. A briga dos dois ensejou composições musicais belíssimas, vez que o amor é a maior fonte de inspiração do poeta. Dalva foi numa excursão com o Trio para a Venezuela com a Companhia de Dercy Gonçalves, não tiveram sucesso, Herivelto retorna ao Rio deixando os demais componentes (depoimento da Dalva no Museu da Imagem e do Som). Nilo volta com dinheiro que tomou emprestado e fica Dalva com o Maestro Vicente de Paiva na Venezuela, apresenta-se em Casas Noturnas e Restaurantes ao Ar Livre, ganha algum dinheiro e vai para o Norte, Belém do Pará, volta para o Rio e consegue gravar na Odeon após um desafio de Vicente de Paiva então Diretor artístico, com o Diretor Geral que impôs – “Se fizer sucesso você será promovido e se Dalva fracassar você perde o emprego”. Foi um Sucesso com a musica “Tudo Acabado” composição de J. Piedade e Oswaldo Martins. Pouco tempo depois conhece Roberto Inglez que era um maestro, nos anos 50, com quem se casou e foram para a Argentina se apresentando em Buenos Aires e excursionando por diversos países, com sucesso durante aproximadamente oito anos, antes de retornar ao Rio de Janeiro, Capital da República, para viver os seus últimos momentos como relatou a parte final da Mini-Série.

Herivelto não foi aquele canalha que se pintou. Eu o conheci como presidente da SBACEM – Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores, no Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, quando lá fui para registrar uma das minhas composições. A ultima apresentação do Trio foi no aniversário de 80 anos de Herivelto. Foram duas pessoas conflitantes, mas acima de tudo, dois grandes valores da Musica Popular Brasileira. Os dois filhos do casal – Pery Ribeiro é Cantor consagrado; Ubiratan foi Diretor da TV Globo já falecido.