sexta-feira, 21 de novembro de 2014

MINHA CIDADE





A minha cidade não é a cidadezinha
Por onde passa o Rio Tejo
Nem possui Ruas
Por onde caminha Fernando Pessoa
A versejar silente.
Não é a Cidade Luz
Coberta de livros e de intelectualidade
Tampouco Viena
Dançando ao som de Strauss
Ou a Áustria de Hitler.
Por ela passam caminhões,
Carretas, Caçambas, Jegues,
Cavalos e carroças
Promovendo barulhos e sujeiras infernais.
Por ela transitam marginais,
Corruptos, Vilões
E espertalhões
Convivendo com alguns cidadãos.
Por aqui matam mais gente do que em todas as guerras,
Mesmo fingindo que estão em paz.
Os jovens da periferia
Não completam 30 anos de vida,
Consumindo Crack, maconha e cocaína,
Tombados por bala certeira
Vindas de mãos, sempre desconhecidas,
Empunhando armas traficadas,
Enquanto os governantes desarmam
Os incautos e desprotegidos
Cidadãos.
Por aqui campeiam arautos do apocalipse
Que se locupletam
Em meio à convivência e à conivência de autoridades constituídas.
A minha cidade não é a cidade luz
De Flaubert, Rousseau, Voltaire e Diderot,
Por onde passa o rio Sena,
Por onde caminham os moços
Em direção ao Quartier Latin
Para solverem o conhecimento
Ministrado nas salas confortáveis da Sorbonne.
Na minha cidade
Os pássaros já não cantam nos arvoredos
Porque os arvoredos foram destruídos
E substituídos por espigões,
Prédios de muitos andares,
Abrigos de homens vazios
E mulheres fúteis
Que nunca leram Dante ou Camões,
Porque suas cabeças estão prontas
Para a tesoura do coifeur.
A minha cidade não é a vírgula,
O ponto e vírgula, nem a reticência.
Tampouco a exclamação ou a interrogação.
Ela é, na realidade, o ponto final,
De uma redação que não se completou.