sexta-feira, 21 de maio de 2021

 HÁ TANTA GENTE QUE PASSA

 Há tanta gente que passa 

Na rua do mundo 

No tempo da vida

 No encontro da morte 

No encontro da dor 

Em busca da sorte

 Em busca de deus

 Em busca do amor

 Em busca da sorte.

 Há gente que passa

 Na rua do mundo 

No tempo da vida 

No asfalto do ontem

 No sol do amanhã 

Na sombra do ausente 

Na noite presente 

Na praia do nada 

No mar da esperança 

No barco que fica 

Na onda do povo 

Na chama do ódio 

Na festa da fome 

Na veste da crença 

No luto do ser 

Na orgia da besta 

Na casa do néscio 

No chão que apodrece

 Na lua que dorme. 

Há gente que passa

Na rua do mundo 

No tempo da vida 

Na porta que fecha 

Na bomba que explode 

Na mente que sobe 

No corpo que desce

 No leito do beijo 

Na carne que vibra 

No colo do vento 

No seio da sede

Na bunda de alguém

 Na luz da saudade

 No sonho menino 

Na voz da mulher

Na vez que não vem 

No espaço do não 

Na boca que xinga 

No micro e no macro 

No cosmos do logos 

No carnaval da ilusão

 No querer momentâneo

 Na lógica e no convencionalismo 

No espaço e no tempo da relatividade 

No livro que não leu 

No pouco que sou eu 

Na dúvida que tenho 

Na rua do mundo 

No tempo da vida 

Na vida do nada.


 Rio de Janeiro, 20/10/68.