Feira
de Santana, Bahia, Junho de 2013.
Deixei o Rio em abril de 1969, notando
uma coincidência inexplicável, porque cheguei nesta antiga Capital da
República, exatamente em abril de 1961, cheio de sonhos, que não foram
realizados por inteiro, porque foram interrompidos, por motivos alheios à minha
vontade.
Não pude me despedir do amigo, e por
isto, através desta carta, tento relatar e reviver fatos, que precisam ser ditos e partilhados, até como um
desabafo, como diz o poeta – “falar para não enfartar”.
Você, talvez, deve se lembrar, que
deixei a vida artística em 68, em conseqüência de atos cometidos por membros da
ditadura que se iniciou em 1º de abril de 1964, quando, dentre tantas
barbaridades cometidas, fecharam a Rádio Nacional, a Mayrink Veiga e a TV
Continental, onde se davam as minhas apresentações, com muita freqüência e
ensejou a minha gravação na RCA VICTOR. Para completar, fecharam a Boate Michel
e o Restaurante Le Rond Point, onde eu cumpria contrato, bem remunerado. Daí,
final de 67 para 68, busquei novas atividades, após retomar os estudos e nos
encontramos em busca de emprego, nos escritórios de venda de Seguro de Saúde,
do Hospital Silvestre. Trabalhamos juntos e após várias incursões, tivemos a
idéia de vendermos a idéia para implantação do Seguro de Saúde a se estender
pelo Brasil, começando pelo Rio. Conseguimos iniciar o projeto. Você comprou um
Retroprojetor da 3M, próximo ao Aeroporto Santos Dumont, fizemos uma
demonstração do projeto, no IBIC, em Botafogo, Hospital Cardiológico de um
amigo judeu – Dr. Edidio, que nos deu crédito e abrigo, para depois Castelo
Branco baixar um Decreto suspendendo a implantação do Seguro de Saúde no país,
atendendo aos interesses da Blue Cross e aí, ficamos na rua.
Montamos um Curso de Taquigrafia e
Madureza, na Rua do Catete, e lecionávamos Francês e Inglês, na Paróquia da
Glória, que foi fechada, se não me engano, em 68, pelo DOPS, que levou todos
para o Campo do Botafogo, alegando que ali abrigava um bando de comunistas.
Escapamos nós, que estávamos no cursinho e depois disso nos desarticulamos.
Segui para concluir meus estudos em
Filosofia e prestar vestibular para Direito. Estudei latim, grego, espanhol,
italiano e aprimorei o francês. Para tanto, sai do Rio e fui para a Bahia. Em
70, retornei para o Rio. Marivone, com quem eu havia convivido, tinha morrido.
Fui morar em Santa Tereza, após um casamento desastroso, que jamais deveria ter
acontecido. Em 73, após vários empreendimentos frustrados na Cidade
Maravilhosa, segui para Belo Horizonte, Minas Gerais. Aprovado duplamente em
vestibular para Direito, cursei inicialmente na UCMG, depois FADOM, UCMG, UNB –
Brasília, UCSAL, FESPI, e, em 1980 conclui, por coincidência em abril. Parece
que tudo acontece em abril.
De retorno a Bahia, fui nomeado
Procurador do Município de Feira de Santana, exercendo, também, a advocacia,
com a qual sobrevivo até hoje.
Escritor, poeta, tenho vários livros
publicados. A música, por ser um dom, do qual não pretendo me divorciar,
amadoristicamente, todos os anos, gravo um CD.
Do amigo tenho boas lembranças,
incluindo a minha admiração pela sua inteligência privilegiada.
Lembro das nossas idas para comer um
bom pastel de queijo com caldo de cana, na Rua Senador Dantas e das nossas boas
conversas.
Lembro também - das poesias que eu escrevia, rodava no mimeógrafo da Paróquia e distribuía no Largo do Machado. Você lembra?!
Aproveito para manda-lhe um abraço, desejando-lhe muita paz e felicidade.