quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

UMA CRÔNICA PARA SARITA


                                                  




Conheci Osvaldo que me apresentou a Mimi que me contratou para cantar no Michel onde conheci Ivone que conhecia Cunha que conhecia Haroldo Eiras que me apresentou a Sarita que me levou para a TV Continental onde conheci Humberto Garin que me apresentou a Rildo Hora que me apresentou a Américo que me levou para a Gravadora Pawal que me levou para Columbia onde fiz um teste e conheci o Maestro Nelsinho que me levou para a RCA Victor onde gravei meu primeiro disco.
  Nesta relação de amizade, ficou como uma árvore frutífera a amizade fraterna e profissional com Sarita Campos, mulher de uma tenacidade invejável, pioneira na apresentação em TV, considerando que era esposa de Dermival Costa Lima, pioneiro na Instalação do Canal de Televisão trazida por Assis Chateaubriand para o Brasil, a primeira na América do Sul, pertencente aos Diários Associados, cassado e liquidado pela ditadura de 64 para privilegiar os Grupos estrangeiros de comunicação (leia-se Time/Life).
     Sarita, quando a conheci, em 1962 morava em Copacabana, na Rua Barata Ribeiro, em um confortável apartamento, com duas filhas - Iara Franco e Saritinha, (embora alguns biógrafos digam que só tinha uma filha) que foram minhas alunas de violão.
Sarita comandava dois Programas na TV Continental – “De Braços Abertos” e “Clube das Garotas”; Um Programa de Conselho Sentimental na Rádio Eldorado e um Programa Musical na Rádio Globo, intercalando entrevistas e apresentações ao vivo com Cantores e profissionais de diversas áreas da nossa cultura e atividade social. Lembro de entrevista com o médico pediatra Reinaldo Delamare, o Bispo Dom Helder Câmara, Edna Savaget, Hebe Camargo que as vezes a substituía na apresentação do Programa quando viajava para São Paulo, e muitos outros.

    Era uma mulher amável, solidária e filantropa com campanhas de arrecadação e distribuição de bens para famílias e pessoas carentes, dando sustentação a muitas Instituições filantrópicas.

   Desfilaram em seus Programas – Cauby Peixoto, Agnaldo Timóteo (em início de  carreira), Nelson Ned (idem), Joelma, Carlos Alberto, Silvinho, Rosita Gonzales, Sergio Murilo, Agnaldo Rayol e muitos outros famosos e em início de carreira, que ela apoiava e divulgava de forma amistosa e graciosa.
Sarita me manteve nos seus Programas durante três anos, até quando foi contratada pela Rede Globo em 01 maio de 1965, permanecendo até 25 de dezembro de 1965, com programação aos sábados no horário das 14h30 e depois às 14h00, quando mudaram a programação, indo para o seu lugar um Programa de Rock In Roll.
                    
   Em 1966 perdi por completo o contato com Sarita.

   Envolvido com a vida noturna da Zona Sul, do Rio de Janeiro, cantando para sobrevier e ainda com esperança de fazer algum sucesso, busquei novos contatos e Sarita ficou sem Programa na TV, em conseqüência da manipulação da Rede Globo que tirou o Programa da TV Continental com um convite ardiloso e depois fechou a programação. Com a TV em baixa, perseguida pela ditadura implantada em 1964, com o processo de aculturação do país, Sarita desapareceu da mídia carioca, indo para a Cidade de São Paulo. Deixei a música por completo como profissional em 1968.
Em 1969 voltei para a Bahia e no ano seguinte retorno ao Rio de Janeiro. Em 1972 vou para Belo Horizonte. De volta à Bahia em 1977.

   1980, advogado, filósofo, escritor, inicio a publicação de livros e começo a minha biografia, buscando entre tantas pessoas que estiveram em minha vida, aquela que foi de muita importância na minha carreira artística – Sarita Campos, tendo notícia em 1990 que a Dama da Televisão e do Rádio havia falecido na cidade de São Paulo, sem glória, no ostracismo, como tantos que muito fizeram pela cultura de nosso país e morreram com a ingratidão de um povo inculto e aculturado.

   Sarita Campos, cujo nome verdadeiro era – Albertina de Grammont Costa Lima, nascida em 25/07/1912, na cidade do Rio de Janeiro, uma mulher que dignificou a Comunicação com sapiência e humildade.

Feira de Santana, 28 de dezembro de 2018.   

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