Na madrugada do dia 10 de junho de 2009, não sei explicar o porquê, acordei com o pensamento em Voltaire, precisamente - François Marie Arouet Lê Jeune du Voltaire, um dos maiores filósofos que a humanidade gerou e então me lembrei de sua obra de cunho social – Candide o Optimisme, que traduzida para o português se fez “Candido ou o Otimismo”, quando ele retrata o seu personagem como um homem que deve ser antes de tudo um otimista apesar de tantas tragédias vividas como a que depois de tantos infortúnios, indo para Portugal chegou a tempo de assistir ao terremoto de 1755 que destruiu uma cidade. Aí me lembrei das minhas andanças. – No início de 1958, após ser submetido aos exames necessários fui admitido na Aeronáutica como recruta e depois S2. Ainda com o tino de quem gosta de estudar formei um grupo e passamos a nos ensinar uns aos outros do que sabíamos em matéria de conhecimento humano visando os cursos de Sargento e de Oficial da Força Aérea Brasileira. Surgiu a primeira oportunidade e nos submetemos aos exames para o curso de Enfermagem que nos daria a promoção de S2 para Cabo. Fomos aprovados e quando estávamos para concluir, eis que explode um “paiol” de munições no bairro distante de Marechal Deodoro, no Rio de Janeiro, vislumbrando um movimento militar que culminaria, poucos anos depois, no golpe militar de 1964. Foi o suficiente para suspenderem o curso e retornarmos de Recife para Salvador. Na Base Aérea, não muito satisfeito, com a frustração, mas consolado e ainda esperançoso, acontece outro infortúnio e por uma discussão envolvendo regras do regimento militar, um oficial despreparado me deu ordem de prisão e fui recolhido ao “Xadrez” por oito dias e aí a viola cantou com os companheiros de farda que dividiam a cela. Depois, por revidar uma atitude torpe de um colega, apliquei-lhe alguns golpes de Capoeira e Jiu Jitsu, sendo novamente recolhido por mais quinze dias, liberado antes do prazo por ordem do Tenente Coronel Comandante da Base. Desestimulado, sentindo o futuro incerto pedi baixa, desistindo da carreira militar e do sonho de ser Aviador, decorridos quase dois anos de caserna. Possuidor de uma voz privilegiada como cantor, tomei a decisão de ir para o Rio de Janeiro. 20 dias após, consegui um contrato em uma Boate na Zona Sul, em Copacabana. Dois anos se passaram e lá eu estava me apresentando em uma das melhores casas noturnas – Bar e Boate Michel e no Restaurante francês Lê Rond Point. O Michel era freqüentado por João Goulart, Doutel de Andrade e muitos membros do governo federal progressista, o que foi suficiente para logo após o golpe militar ser fechado, depedrado, destruídos os aquários iluminados que ornavam as paredes. Não pouparam nem mesmo os peixes. Fui convidado para cantar no Restaurante CABANA, na Praça N.S. da Paz, em Ipanema, sendo recepcionado com uma “Paella a Valenciana” de dar água na boca, regada com excelente uísque, onde pude perceber durante algum tempo a presença de Maria Betânia que chegava à Cidade Maravilhosa e ficava a me ouvir. Conheci Mario Prioli que explorava um Boliche e reunia os componentes do Grupo MPB-4, Chico Buarque de Holanda e outros amigos. Pouco tempo depois Mario fundou o Canecão - a mais importante casa de Show do Rio de Janeiro. Tivemos muitas andanças. Não demorou e uma das sócias do Restaurante foi atropelada na calçada de Ipanema. Coincidentemente esta senhora namorava Antonio Buono, jornalista que foi Diretor do jornal “A Noite” localizado no Prédio da Radio Nacional, (fechado pela ditadura), homem de idéias socialistas e que fora atropelado anos atrás. Em recessão a casa noturna encerrou as suas atividades. Fiquei desempregado. Desestimulado resolvi atrelar-me a um grupo religioso na Paróquia da Glória no Largo do Machado, passando a dar aulas de Filosofia e Francês, abrindo um Curso de Madureza e Taquigrafia na Rua do Catete. Rodávamos num mimeografo à tinta, matérias de cunho social, combatendo os vendilhões da pátria e fomos perseguidos pelo Dops e pelo SNI. Foram quase todos levados para o Campo do Botafogo em General Severiano, escapando eu e o amigo Amaral. Tivemos que nos refugiar por algum tempo em lugares não conhecidos. Em 1973 fui para Belo Horizonte, aprovado em vestibular para o curso de Direito, tornei-me Advogado e voltei para a Bahia. Nomeado Procurador Jurídico em 1981. Por não aderir ao grupo de direita, em 1983, fui exonerado. Não tenho razões para ser otimista, mas não desisto, vou em frente, com todas as forças que me restam e não me deixo vencer. Vou em frente, nada deve me deter. Sou um vencedor apesar das intempéries e das adversidades.
Meu abrigo: a minha consciência. Minha força: a vontade de vencer. Desistir – nunca. Caminhar – sempre. Meu ponto de chegada: a eternidade através da palavra e do pensamento.
Feira, 10.07.2009.
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