AVENIDA
SENHOR DOS PASSOS
Avenida
das minhas serenatas,
Das
minhas noites sonhadas,
Sondadas
e caminhadas;
Das
moças bonitas
Que
namorei e não namorei;
Dos
bate-papos gostosos
De
Isabel, de Elia, Maritinha
E
Candinha;
Dos
assustados cantados,
Dançados
e tocados
Por
muitas madrugadas.
Avenida
percorrida
Sem
cansaço e sem mentira,
Glorificada
pelos amores vividos
E
jamais esquecidos.
Avenida
do Ginásio Santanópolis
De
tanto brilhantismo
Que
a sua prole não cuidou;
Dos
cinemas
Iris
e Timbira,
Dos
filmes de Cowboy,
Das
matinês e Soirées,
Das
apresentações artísticas
De
Chico Viola,
Da
Aquarela do Brasil
De
Ari Barroso,
Abrindo
as cortinas do passado...
Do
glorioso cinemascope
Ao
decadente filme pornô.
Avenida
de Helena Assis,
Mestre
de muitos ensinamentos,
De
Vavá e de Vevé,
De
Emilson e de Dedé,
De
Chico Pinto
Que
recebia Getúlio Vargas,
De
Raimundo Pinto,
De
Luiz Silvany,
Da
Casa OK
De
Álvaro Barbosa,
Da
Escola São João Evangelista,
Da
datilografia aprendida
Para
a burocracia mercantilista
De
um comércio que se organizava;
Da
Professora Catuca e Hermengarda,
De
Armando Oliveira e de Braginha,
Da
Pensão que me abrigou,
Do
Carnaval que passou,
Das
Procissões e Romarias,
De
Maria Lúcia e de Lúcia Maria,
Do
Ferro de Engomar,
Do
Colégio das Freiras Sacramentinas,
De
Hermínio Santos,
Da
Casa da Torre,
De
Luis Alvim e de Faninho,
Do
andar rebolante de Creuza,
Minha
musa das primeiras poesias.
Avenida
Senhor dos Passos
Que
trilhei em passos firmes
A
caminho da Usina de Algodão,
Para
os babas das tardes de janeiro
E
das noitadas de serenatas
Ao
som de violões e canções inesquecíveis,
Da
Voz do Violão,
Da
Malandrinha e do Luar do Sertão.
Quantas
poesias derramadas
Em
noites de estrelas,
Testemunhas
silenciosas que não se apagam.
Avenida
do Bar da esquina,
Confluência
com a Carlos Gomes,
Onde
cantei minhas últimas canções
Com
um amigo castelhano
Que
nunca mais encontrei,
Porque
viajei e se passaram vinte anos
E
depois, mais trinta e cinco,
E
o tempo não retroage para o encontro
Dos
que se perderam pelos caminhos e descaminhos.
Avenida
dos meus amores,
Que
se foram sem despedidas
E
sem retornos.
Em
tua linha reta, Avenida,
Resta
a amplitude de um comércio,
Responsável
pela migração
Residencial
que abrigou
Homens
e mulheres
Que
se apaixonaram,
Que
formaram famílias,
Que
foram expulsas,
Pelo
burburinho
Dos
carros, carroças e caminhões...
Pelo
solo ocupado
Por
barracas desordenadas
E
milhares de passantes
No
indo e vindo
Sem
rumo certo,
Em
busca da chita
E
do equipamento eletrônico importado,
Que
aliena e massifica
A
turba ignara, que não versifica,
Que
não rima e não canta as nossas musas,
Porque
vão perdidos,
Entre
tantos desencontrados.
Avenida
de Becos transversais
Que
abrigaram famílias e bordéis,
Oficinas
e Bares que abrigavam a boemia;
Da
travessa do ABC,
Do
Beco do França,
Do
Beco do Ginásio,
Do
Pilão Sem Tampa.
Avenida
do Maternal Bebê Conforto,
Da
saudosa Pro Izabel,
Que
confortavelmente abrigou
O
meu bebê que se fez adulta
E
que se fez mulher,
Bela
e competente para a lida e para a vida.
Avenida
que se perdeu
No
progresso dos homens
E
na decadência urbanística
E
humanística, vendida a qualquer preço,
Que
o presente esqueceu
E
o futuro consagrou
Como
o último reduto dos que se foram,
Mas
vive nas páginas destes versos
Que
escrevo e que são meus.
Feira
de Santana, 02 de dezembro de 2017.
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