quarta-feira, 6 de maio de 2015

PORQUE HOJE É SABADO














Hoje, exatamente às 19h25, fui até a varanda de minha casa, para fazer a caminhada diária, recomendada pelo médico, para tratamento fisioterapeuta pós-cirúrgico. Levantei a cabeça, olhei para o céu e deparei com uma lua cheia, brilhante, daquelas que abrem as veias de qualquer poeta. Sexta-feira, véspera de sábado que é o dia da boemia, do recreio e dos encontros planejados, (pelo menos era nas décadas de 50/60), ai lembrei-me do poetinha que vivenciava todas as alegrias e curtições “porque hoje é sábado”.
O sábado era o dia do encontro com os amigos, era o dia da pelada, do baba, do encontro com a namorada para o beijo e o abraço, fonte de inspiração. Após as 22h00 a gostosa serenata pelas ruas e avenidas silenciosas, pacatas e humanas, que o plangente violão se mostrava ao acompanhar a voz do cantor apaixonado.
“A lua vem surgindo cor de prata, no alto da montanha verdejante, a lira do cantor em serenata, reclama na janela a sua amante...”.
Repeti muitas vezes estes versos de Freire Junior, gravado em disco pelo “Rei da Voz” Francisco Alves, que gravou mais de mil músicas em disco de 78 rotações, hoje esquecido pela mídia que controla a mente tacanha de um povo inculto e imbecilizado.
Sábado, pela manhã o futebol, à tarde o descanso, à noite, logo cedo, o encontro com a namorada. Noite de lua cheia, a serenata era o ponto de partida para a boemia que normalmente terminava na “Casa de Lindaura” ou no “125”, nos braços aconchegantes de lindas mulheres.
Muitos dos meus amigos, quase todos, partiram, desencarnaram, foram para outro plano. Os costumes mudaram, o romantismo acabou e a musicalidade plena de poesia ficou no passado longínquo. As janelas já não abrigam a expectativa do encontro, as portas não se abrem. Estamos gradeados, com cercas elétricas nos guarnecendo dos possíveis assaltos de criminosos que a sociedade desorganizada fabrica todos os dias. Somos uma comunidade enjaulada, sem música, sem poesia, sem literatura, à mercê de uma programação degenerativa dos costumes patrocinada pela Rede Globo, que conseguiu destruir o conceito de família.
Amanhã não poderei mais dizer – vou ao encontro dos amigos e dos amores, porque hoje é sábado.
Feira, 03.04.2015.

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