sexta-feira, 7 de setembro de 2012

AMANTES DO PODER

Muitas foram as amantes do poder, que se prostituíram, venderam a alma, o corpo e a sua família, para obter benesses em sua vida pregressa de escravos do vil metal. Desde pequena, Jeanne-Antoinette Poisson foi criada para ser a favorita de Luís 15. Bem-educada e perspicaz conseguiu o que queria. Tornou-se a Madame de Pompadour, uma das mulheres mais influentes da França. Como os casamentos reais eram fruto de acordos políticos e econômicos, o rei buscar amor e prazer nos braços de outras era natural. "Pais empurravam as filhas mais atraentes para os braços do rei, torcendo para que elas terminassem em sua cama", diz Robin Briggs, historiador da Universidade de Oxford (Inglaterra). "A amante tinha acesso direto ao rei e era vista como a mais interessada em seu bem-estar, além de ser uma fonte segura de informações sobre a corte", diz Kathleen Wellman, da Southern Methodist University, em Dallas (EUA). Nos tempos modernos são os homens que superam as mulheres em quantidade, a se prostituírem e a se degradarem, não encontrando limites para se aproximarem e até ocuparem o poder de alguma forma, mesmo que seja se beneficiando da intermediação de negócios palacianos. Aí é a mais valia. Vendem informações, negociam cargos e desconhecem o que é lícito ou ilícito. Os princípios morais são para eles conceitos estranhos. Um dia se xingam e outro dia se abraçam, tudo em nome do interesse múltiplo de poder manipular o erário em proveito próprio e de seus comparsas. A imprensa nacional e internacional tem divulgado este circo dos horrores, que não faz rir a ninguém, pelo contrário, deixam-nos estarrecidos a cada dia como se estivéssemos a assistir um espetáculo inimaginável. A Suprema Corte do país está a se ocupar de um julgamento absurdo de pessoas que usufruíram do poder para se locupletarem e, para tanto, corruptos e corruptores se entrelaçaram em propinas milionárias, sangrando os cofres públicos, sem o menor escrúpulo. Enquanto isto, os congressistas e os donos do poder subvertem os fatos e colocam em foco a figura de um contraventor que deveria estar aos cuidados da polícia em atos corriqueiros. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, atribuiu as críticas à sua atuação nas investigações contra o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, feitas pela CPMI do Cachoeira ao "medo do julgamento do mensalão". E segue: “Os parlamentares que integram a CPMI já anunciaram a intenção de convocar Gurgel para explicar o fato de, em 2009, ele não ter pedido a abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar a relação de políticos com Cachoeira”. "Eu tenho dito que na verdade o que nós temos são críticas de pessoas que estão morrendo de medo do julgamento do mensalão. São pessoas que na verdade estão muito pouco preocupadas com as denúncias em si mesmo, com os fatos de desvio de recursos e corrupção, e ficam muito preocupados com a opção que o procurador-geral tomou em 2009, opção essa altamente bem-sucedida. Não fosse essa opção, nós não teríamos Monte Carlo, nós não teríamos todos estes fatos que acabaram vindo à tona", afirmou”. Não tem sido diferente em nosso país, em todos os rincões, surgindo como uma praga inexpugnável e irreversível, a forma pela qual se relacionam os poderes, em trocas de favores que ainda vão acompanhadas de volumes incalculáveis de recursos públicos, pela insaciabilidade de muitos que elegemos, para a nossa própria desgraça e decepção. Os gestores, para terem as suas contas aprovadas, têm que superar as barreiras do acompanhamento técnico e o parecer dos Tribunais de Contas, compostos de Conselheiros escolhidos por políticos influentes, que os mantêm reféns, e depois se submetem aos parlamentares, que negociam as aprovações a peso de ouro. Esta é a regra geral, com raríssimas exceções. Nos meus quase quarenta anos de labuta no setor jurídico da administração pública, é o que tenho visto, progredindo em escala crescente. Antes, eram dois ou três. Agora são muitos, como se esta fosse a regra, e assim caminha a humanidade. Vou à aposentadoria total, com a frustração de não ter podido contribuir para extinguir esta praga e de não haver colaborado para aprimorar a índole dos meus desiguais. Feira, 07 de setembro de 2012, data da comemoração da “Independência do Brasil”.

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