Feira de Santana, dezembro de 1966.
Estimada Madame Mimi,
Em primeiro lugar, quero agradecer pela semana de folga concedida, para visitar minha família, nesta cidade denominada Princesa do Sertão, pelo consagrado jurista Rui Barbosa. Durante a viagem, que fiz no ônibus leito, da Itapemirim, tive a oportunidade do deleite de uma leitura, que nos faz pensar nas coisas, deste nosso sofrido país. Digo nosso, porque, apesar da sua nacionalidade francesa, da sua educação parisiense, tenho assistido a sua dedicação a nossa cultura, valorizando o que há de mais sagrado para um povo, que é a sua musica, e neste ponto, sou testemunha. Após a leitura de Crime e Castigo, de Dostoiévski, presente recebido de suas mãos, tenho agora o prazer de conhecer as idéias, deste inglês, que honra a literatura universal, pelos seus pensamentos, que é o querido Thomas More. Durante a viagem, pude, com o auxilio de uma lâmpada colocada acima da poltrona, fazer minha leitura, sem perturbação, tendo uma pausa, apenas, para dar atenção a dois curiosos advogados, companheiros de viagem, que se intrigaram com a minha sede de saber, vez que, em nenhum momento dormi, no percurso de vinte e quatro horas, que separam a Cidade Maravilhosa da Cidade Princesa. Estou encantado com o livro, de confecção simples, popular, mas de uma grandiosidade sem par, que é Utopia. More, me fez lembrar, pela sua intenção de construir uma sociedade justa, honesta, digna, o hoje cassado injustamente – João Goulart, que tentou a reforma de base e foi expurgado pelas forças retrogradas de militares comprometidos com a desnacionalização do Brasil. Vendilhões da pátria, que se locupletam com benesses oferecidas, pelo imperialismo norte americano, que irá nos aculturar, nos catequizando e saqueando as nossas riquezas. Aproveito para falar um pouco deste que foi o Chanceler Britânico, de maior sapiência, morto e decapitado pelo déspota, Henrique VIII, só porque teve a dignidade de pensar livremente, conforme as suas convicções.
São Sir Thomas More, por vezes latinizado em Thomas Morus, (Londres, 7 de Fevereiro de 1478 — Londres, 6 de Julho de 1535) foi homem de estado, diplomata, escritor, advogado e homem de leis, ocupou vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532, o cargo de "Lord Chancellor" (Chanceler do Reino - o primeiro leigo em vários séculos) de Henrique VIII da Inglaterra. É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento. Foi canonizado como santo da Igreja Católica em 9 de Maio de 1935 e sua festa litúrgica se dá em 22 de junho.
Após prestar os mais valiosos serviços a Inglaterra, por suas convicções religiosas e doutrinárias,Thomas More, recusou-se a apoiar o divórcio do Rei Henrique VIII, foi preso, confinado, condenado e decapitado. Deixou como Obra célebre o livro “UTOPIA”, palavra que vem do grego (utopos = em lugar nenhum), para criar uma ilha, habitada e governada por pessoas íntegras, lugar onde não existe a desonestidade, a corrupção, o enriquecimento ilícito, a vaidade e o déspota. Nesta ilha havia uma sociedade perfeita e um governo justo. Daí, denominar-se utopia como sinônimo de tudo aquilo que se imagina, mas, impossível de se alcançar.
Madame, o clima político aqui, não é diferente. A repressão atinge todos os setores, inclusive o cerceamento do direito de ir e vir. Até nos lupanares, estão intervindo, proibindo a atividade sexual de homens que pensam ser livres, e que não são respeitados, pela rigidez de um Capitão Capelão, que desconhece até os princípios religiosos, humilhando o semelhante, num verdadeiro abuso de poder, adotando uma postura eminentemente nazista. Retorno no domingo, para este canto encantado, ainda, que é o Michel, para dar continuidade a profissão que escolhi, cantando para alegrar corações apaixonados, neste ambiente tão acolhedor, estruturado pela sua sapiencia. Recomendações a Braguinha, Stanislaw, Sergio Cabral e Fernando Lobo, abituê das madrugadas.
Um grande abraço, deste que muito lhe admira,
Milton.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
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