segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CARTA PARA ANA MARIA

Feira de Santana, 12 de novembro de 2011.


Querida amiga, Ana,


Como é do seu conhecimento, comemoro o meu aniversário, e, já se passaram muitos anos, desde que nos conhecemos. Seria hoje um dia para falar de coisas boas, com musicalidade e poesia. Jurei que não falaria de coisas ruins, de maus presságios, agouros, bruxas e malversação, mas, quebrei a minha jura, por causa dos juros exorbitantes praticados pelos Bancos e demais instituições financeiras, em detrimento da população necessitada, dos consumidores inevitáveis deste mercado torpe que nos alimenta a peso de ouro, que não possuímos, mas paga o preço, e a maioria das vezes sucumbe, embora o governo federal diga que a inflação é de 0,6 e conceda aumento salarial de 6% ao ano para os trabalhadores, enquanto os parlamentares se dão aumento de 70%, pra trabalharem de segunda à quarta, ou seja, três dias por semana, uns na parte da tarde e outros pela manhã, num esforço hercúleo para não morrerem de tédio em suas riquezas ilícitas, com 13º e 14º salários, além da ajuda palito e outras benesses, engabelando todos nós,. Pesquisando a minha árvore genealógica, descobri que tenho herança genética de Diogo Álvares Correia – o Caramuru, homem valente, que sobreviveu após um naufrágio e foi temido pelos índios antropófagos, daí o meu destemor. Pois é, minha amiga. Fico pasmo quando leio que nosso País é inviável porque perde para a corrupção R$ 85 bilhões de reais por ano; tem uma máquina burocrática que cresce mais do que o PIB e cobra 40% deste em impostos, mas não consegue zerar o déficit público, gerando energia elétrica pelo método mais barato do mundo e a entrega ao consumidor por um dos preços mais elevados do planeta, com a carga tributária mais injusta do mundo civilizado, batendo em nossa porta para cobrar a maioria das vezes o indevido. O nosso dinheiro aplicado em caderneta de poupança rende 0,6% ao mês, mas o nosso cartão de crédito nos cobra até 19,9% ao mês; o cheque especial 8,21% ao mês e 158,03% ao ano, uns, e outros, CET de 9,66% ao mês e 207, 080% ao ano, com juros mensal de 9, 030% e anual de 182,19%. É ou não é um assalto aos nossos parcos rendimentos do labor suado? É ou não é uma afronta ao nosso povo desprotegido, tutelado por leis injustas que só beneficia os poderosos, corruptos e corrompidos? Enquanto isto todas as igrejas de todas as religiões são isentas de qualquer tributo, assim declarado pela Carta Magna, que ainda diz - “todos são iguais perante a lei”. No meu labor advocatício as decepções somam-se aos milhares. Juízes e Promotores se julgam deuses e nós, pobres mortais, submissos ao império dos incompetentes. Só temos direito ao “jus esperniandi”, porque a deusa vendada ficou surda e muda. Ainda hoje recebi uma intimação de um processo que tramita desde os idos de 1982, com o despacho brilhante de um Magistrado – “Diga a parte autora se tem interesse no andamento do feito”. Como se a postulação fosse um ato inócuo. Parece brincadeira. Como a Bela Adormecida, espera o judiciário pelo beijo ressuscitador, para acordar do pesadelo da inércia. Os demandantes morreram e o advogado se aposentou. Fez-me lembra de um processo que encontrei devolvido pelo Egrégio Tribunal de Justiça, no ano de 1986, cujo ajuizamento se deu em 1876, para dirimir uma disputa indenizatória, envolvendo dois Carpinteiros, - um, o autor de uma engenhoca, que facilitava a confecção dos móveis, contudo, seu empreendimento lhe custou as ultimas reservas financeiras e para sobreviver tomou emprestado um valor em dinheiro na mão de um colega de profissão, dando em garantia o depósito da bendita máquina, que fora usada indevidamente pelo financista, que ganhou muito dinheiro, vez que o equipamento deu maior velocidade para a sua indústria. No acerto de contas, o inventor pediu uma indenização ao financista pelo uso não permitido do invento, e que fosse deduzido do seu débito financeiro o lucro obtido pelo seu credor. Pois é, durou a demanda 110 anos. Não observei se houve sentença. Todos haviam morrido, – partes, advogados e juízes. Este é o nosso país, este é o homem.

Para não me estressar ainda mais, e enfartar, falo do ultimo livro que lancei, com sucesso: – “Cronicidade” e do CD “Besame Mucho”. Estão perfeitos. Seguem em anexo. O primeiro contem 72 crônicas e o segundo 18 boleros inesquecíveis.

Felizmente, a literatura e a musica são legados dos deuses do Olimpo, aos poucos privilegiados, que são - os que produzem; os que lêem e os que ouvem. Infelizmente são poucos.

Um grande abraço, do amigo,


Milton.

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