terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CARTAS NÃO REMETIDAS - A MADAME MIMI

Feira de Santana, dezembro de 1966.

Estimada Madame Mimi,

Em primeiro lugar, quero agradecer pela semana de folga concedida, para visitar minha família, nesta cidade denominada Princesa do Sertão, pelo consagrado jurista Rui Barbosa. Durante a viagem, que fiz no ônibus leito, da Itapemirim, tive a oportunidade do deleite de uma leitura, que nos faz pensar nas coisas, deste nosso sofrido país. Digo nosso, porque, apesar da sua nacionalidade francesa, da sua educação parisiense, tenho assistido a sua dedicação a nossa cultura, valorizando o que há de mais sagrado para um povo, que é a sua musica, e neste ponto, sou testemunha. Após a leitura de Crime e Castigo, de Dostoiévski, presente recebido de suas mãos, tenho agora o prazer de conhecer as idéias, deste inglês, que honra a literatura universal, pelos seus pensamentos, que é o querido Thomas More. Durante a viagem, pude, com o auxilio de uma lâmpada colocada acima da poltrona, fazer minha leitura, sem perturbação, tendo uma pausa, apenas, para dar atenção a dois curiosos advogados, companheiros de viagem, que se intrigaram com a minha sede de saber, vez que, em nenhum momento dormi, no percurso de vinte e quatro horas, que separam a Cidade Maravilhosa da Cidade Princesa. Estou encantado com o livro, de confecção simples, popular, mas de uma grandiosidade sem par, que é Utopia. More, me fez lembrar, pela sua intenção de construir uma sociedade justa, honesta, digna, o hoje cassado injustamente – João Goulart, que tentou a reforma de base e foi expurgado pelas forças retrogradas de militares comprometidos com a desnacionalização do Brasil. Vendilhões da pátria, que se locupletam com benesses oferecidas, pelo imperialismo norte americano, que irá nos aculturar, nos catequizando e saqueando as nossas riquezas. Aproveito para falar um pouco deste que foi o Chanceler Britânico, de maior sapiência, morto e decapitado pelo déspota, Henrique VIII, só porque teve a dignidade de pensar livremente, conforme as suas convicções.
São Sir Thomas More, por vezes latinizado em Thomas Morus, (Londres, 7 de Fevereiro de 1478 — Londres, 6 de Julho de 1535) foi homem de estado, diplomata, escritor, advogado e homem de leis, ocupou vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532, o cargo de "Lord Chancellor" (Chanceler do Reino - o primeiro leigo em vários séculos) de Henrique VIII da Inglaterra. É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento. Foi canonizado como santo da Igreja Católica em 9 de Maio de 1935 e sua festa litúrgica se dá em 22 de junho.
Após prestar os mais valiosos serviços a Inglaterra, por suas convicções religiosas e doutrinárias,Thomas More, recusou-se a apoiar o divórcio do Rei Henrique VIII, foi preso, confinado, condenado e decapitado. Deixou como Obra célebre o livro “UTOPIA”, palavra que vem do grego (utopos = em lugar nenhum), para criar uma ilha, habitada e governada por pessoas íntegras, lugar onde não existe a desonestidade, a corrupção, o enriquecimento ilícito, a vaidade e o déspota. Nesta ilha havia uma sociedade perfeita e um governo justo. Daí, denominar-se utopia como sinônimo de tudo aquilo que se imagina, mas, impossível de se alcançar.
Madame, o clima político aqui, não é diferente. A repressão atinge todos os setores, inclusive o cerceamento do direito de ir e vir. Até nos lupanares, estão intervindo, proibindo a atividade sexual de homens que pensam ser livres, e que não são respeitados, pela rigidez de um Capitão Capelão, que desconhece até os princípios religiosos, humilhando o semelhante, num verdadeiro abuso de poder, adotando uma postura eminentemente nazista. Retorno no domingo, para este canto encantado, ainda, que é o Michel, para dar continuidade a profissão que escolhi, cantando para alegrar corações apaixonados, neste ambiente tão acolhedor, estruturado pela sua sapiencia. Recomendações a Braguinha, Stanislaw, Sergio Cabral e Fernando Lobo, abituê das madrugadas.

Um grande abraço, deste que muito lhe admira,

Milton.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

CARTA PARA ANA MARIA

Feira de Santana, 12 de novembro de 2011.


Querida amiga, Ana,


Como é do seu conhecimento, comemoro o meu aniversário, e, já se passaram muitos anos, desde que nos conhecemos. Seria hoje um dia para falar de coisas boas, com musicalidade e poesia. Jurei que não falaria de coisas ruins, de maus presságios, agouros, bruxas e malversação, mas, quebrei a minha jura, por causa dos juros exorbitantes praticados pelos Bancos e demais instituições financeiras, em detrimento da população necessitada, dos consumidores inevitáveis deste mercado torpe que nos alimenta a peso de ouro, que não possuímos, mas paga o preço, e a maioria das vezes sucumbe, embora o governo federal diga que a inflação é de 0,6 e conceda aumento salarial de 6% ao ano para os trabalhadores, enquanto os parlamentares se dão aumento de 70%, pra trabalharem de segunda à quarta, ou seja, três dias por semana, uns na parte da tarde e outros pela manhã, num esforço hercúleo para não morrerem de tédio em suas riquezas ilícitas, com 13º e 14º salários, além da ajuda palito e outras benesses, engabelando todos nós,. Pesquisando a minha árvore genealógica, descobri que tenho herança genética de Diogo Álvares Correia – o Caramuru, homem valente, que sobreviveu após um naufrágio e foi temido pelos índios antropófagos, daí o meu destemor. Pois é, minha amiga. Fico pasmo quando leio que nosso País é inviável porque perde para a corrupção R$ 85 bilhões de reais por ano; tem uma máquina burocrática que cresce mais do que o PIB e cobra 40% deste em impostos, mas não consegue zerar o déficit público, gerando energia elétrica pelo método mais barato do mundo e a entrega ao consumidor por um dos preços mais elevados do planeta, com a carga tributária mais injusta do mundo civilizado, batendo em nossa porta para cobrar a maioria das vezes o indevido. O nosso dinheiro aplicado em caderneta de poupança rende 0,6% ao mês, mas o nosso cartão de crédito nos cobra até 19,9% ao mês; o cheque especial 8,21% ao mês e 158,03% ao ano, uns, e outros, CET de 9,66% ao mês e 207, 080% ao ano, com juros mensal de 9, 030% e anual de 182,19%. É ou não é um assalto aos nossos parcos rendimentos do labor suado? É ou não é uma afronta ao nosso povo desprotegido, tutelado por leis injustas que só beneficia os poderosos, corruptos e corrompidos? Enquanto isto todas as igrejas de todas as religiões são isentas de qualquer tributo, assim declarado pela Carta Magna, que ainda diz - “todos são iguais perante a lei”. No meu labor advocatício as decepções somam-se aos milhares. Juízes e Promotores se julgam deuses e nós, pobres mortais, submissos ao império dos incompetentes. Só temos direito ao “jus esperniandi”, porque a deusa vendada ficou surda e muda. Ainda hoje recebi uma intimação de um processo que tramita desde os idos de 1982, com o despacho brilhante de um Magistrado – “Diga a parte autora se tem interesse no andamento do feito”. Como se a postulação fosse um ato inócuo. Parece brincadeira. Como a Bela Adormecida, espera o judiciário pelo beijo ressuscitador, para acordar do pesadelo da inércia. Os demandantes morreram e o advogado se aposentou. Fez-me lembra de um processo que encontrei devolvido pelo Egrégio Tribunal de Justiça, no ano de 1986, cujo ajuizamento se deu em 1876, para dirimir uma disputa indenizatória, envolvendo dois Carpinteiros, - um, o autor de uma engenhoca, que facilitava a confecção dos móveis, contudo, seu empreendimento lhe custou as ultimas reservas financeiras e para sobreviver tomou emprestado um valor em dinheiro na mão de um colega de profissão, dando em garantia o depósito da bendita máquina, que fora usada indevidamente pelo financista, que ganhou muito dinheiro, vez que o equipamento deu maior velocidade para a sua indústria. No acerto de contas, o inventor pediu uma indenização ao financista pelo uso não permitido do invento, e que fosse deduzido do seu débito financeiro o lucro obtido pelo seu credor. Pois é, durou a demanda 110 anos. Não observei se houve sentença. Todos haviam morrido, – partes, advogados e juízes. Este é o nosso país, este é o homem.

Para não me estressar ainda mais, e enfartar, falo do ultimo livro que lancei, com sucesso: – “Cronicidade” e do CD “Besame Mucho”. Estão perfeitos. Seguem em anexo. O primeiro contem 72 crônicas e o segundo 18 boleros inesquecíveis.

Felizmente, a literatura e a musica são legados dos deuses do Olimpo, aos poucos privilegiados, que são - os que produzem; os que lêem e os que ouvem. Infelizmente são poucos.

Um grande abraço, do amigo,


Milton.