Salvador, Colégio Ipiranga, Ladeira do Sodré, 09 de dezembro de 1952.
Estimado Irmão,
Hoje é o dia de seu aniversário e o parabenizo. Lamento não estar com você para comemorarmos esta data tão importante, mesmo não sendo costume de nossa família, contudo poderíamos nos ver e quem sabe tomar um guaraná Antártica com um bom pedaço de bolo. Como vão as garotas aí de nossa cidade? Aqui estou namorando uma garota que estuda na mesma sala de aula que freqüento. A dificuldade é que ela é aluna externa e mesmo morando nas proximidades, na Ladeira da Preguiça, só nos vemos no colégio. E as poesias? Eu me sinto privilegiado, vez que o imóvel onde se encontra o Colégio Ipiranga foi a casa do Poeta Castro Alves, o condoreiro, aquele que voa alto, que é “pequeno mais só fita os Andes”, poeta dos escravos de verve inigualável, que infelizmente morreu com 24 anos de idade deixando vasta obra literária, o que me inspira para escrever as minhas poesias, e da janela do andar superior fico muitas noites ouvindo gravações executadas em radiola de uma casa que fica de frente para o casario, musicas orquestradas com solo de violino que nos transporta para lugares desconhecidos, tenho a impressão que são musicas do grande compositor Tchaikovsky. Estou aprendendo os primeiros acordes do violão com Valdeck Veloso que é também meu professor de jiu jitsu. Quando retornar, nas férias de final de ano, espero podermos cantar nas areias de Itapoã, conquistando belas morenas, ao som de “Coqueiro de Itapoã, Coqueiro/ Areia de Itapoã, areia/ morena de Itapoã, morena/ saudades de Itapoã me deixa...”, dentre tantas canções de Dorival Caymmi, tomando banho de mar, jogando o futebol e dividindo amizades. Soube que você vai para Lustosa estudar em um colégio interno. Será que a opção é boa? Será boa intenção da madrasta ou ela quer nos ver longe de casa? Tomara que não seja ela uma das que teve de enfrentar Branca de Neve. Aproveito a oportunidade para lhe mandar uma poesia que escrevi para a sua apreciação.
JANELA.
Janela!
Altar de amores
E de fantasias...
Vigília breve
De eternais sabores,
Torpor das virgens
E das belas Marias.
Quantas noites,
Eu em ti debruço,
Buscava a brisa
No tardar da aurora...
Ah! Quem me dera
Aquelas negras noites
Que a solidão deslumbra
E a saudade chora.
Rompe a neblina,
À tepidez de beijos,
A dócil Lucia...
E o nosso amor declina.
Tu és abrigo
Na tenaz madruga...
De mil amores
Tu serás divina.
Um grande abraço,
Do mano Milton.
Publicado em 14.05.2011.
sábado, 18 de junho de 2011
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