HÁ TANTA GENTE QUE PASSA
Há tanta gente que passa
Na rua do mundo
No tempo da vida
No encontro da morte
No encontro da dor
Em busca da sorte
Em busca de deus
Em busca do amor
Em busca da sorte.
Há gente que passa
Na rua do mundo
No tempo da vida
No asfalto do ontem
No sol do amanhã
Na sombra do ausente
Na noite presente
Na praia do nada
No mar da esperança
No barco que fica
Na onda do povo
Na chama do ódio
Na festa da fome
Na veste da crença
No luto do ser
Na orgia da besta
Na casa do néscio
No chão que apodrece
Na lua que dorme.
Há gente que passa
Na rua do mundo
No tempo da vida
Na porta que fecha
Na bomba que explode
Na mente que sobe
No corpo que desce
No leito do beijo
Na carne que vibra
No colo do vento
No seio da sede
Na bunda de alguém
Na luz da saudade
No sonho menino
Na voz da mulher
Na vez que não vem
No espaço do não
Na boca que xinga
No micro e no macro
No cosmos do logos
No carnaval da ilusão
No querer momentâneo
Na lógica e no convencionalismo
No espaço e no tempo da relatividade
No livro que não leu
No pouco que sou eu
Na dúvida que tenho
Na rua do mundo
No tempo da vida
Na vida do nada.
Rio de Janeiro, 20/10/68.
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