quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

 

                  AVENIDA SENHOR DOS PASSOS

 




Avenida das minhas serenatas, das minhas noites sonhadas, sondadas e caminhadas; das moças bonitas que namorei e não namorei; dos bate-papos gostosos de Isabel, de Elia, Maritinha e Candinha; dos assustados cantados, dançados e tocados por muitas madrugadas.

 Avenida percorrida sem cansaço e sem mentira, glorificada pelos amores vividos e jamais esquecidos.

 Avenida do Ginásio Santanópolis de tanto brilhantismo, dos cinemas Iris e Timbira, dos filmes de cowboy, das matinês e soirées; das apresentações artísticas de Chico Viola, da Aquarela do Brasil de Ari Barroso, abrindo as cortinas do passado...

Do glorioso cinemascope ao decadente filme pornô.

 Avenida de Helena Assis, mestra de muitos ensinamentos; de Vavá e de Vevé, de Emilson e de Dedé, de Chico Pinto que recebia Getúlio Vargas; de Raimundo Pinto, de Luiz Silvany, da Casa OK de Álvaro Barbosa, da Escola São João Evangelista, da datilografia aprendida para a burocracia mercantilista de um comércio que se organizava; da Professora Catuca e Hermengarda, de Armando Oliveira e de Braginha, da Pensão que me abrigou, do Carnaval que passou, das procissões e romarias, de Maria Lúcia e de Lúcia Maria, do Ferro de Engomar.

 Avenida do Colégio das Freiras Sacramentinas, de Hermínio Santos, da Casa da Torre, de Luis Alvim e de Faninho, do andar rebolante de Creuza, musa das minhas primeiras poesias.

 Avenida Senhor dos Passos que trilhei em passos firmes a caminho da Usina de Algodão, para os babas das tardes de janeiro e das noitadas de serenatas ao som de violões e canções inesquecíveis, da Voz do Violão, da Malandrinha e do Luar do Sertão, de poesias derramadas em noites de estrelas, testemunhas silenciosas que não se apagam.

 Avenida do Bar da esquina, confluência com a Carlos Gomes, onde cantei minhas últimas canções com um amigo castelhano que nunca mais encontrei, porque viajei e se passaram vinte anos e depois, mais trinta e cinco, e o tempo não retroage para o encontro dos que se perderam pelos caminhos e descaminhos.

 Avenida dos meus amores, que se foram sem despedidas e sem retornos.

 Em tua linha reta, Avenida, resta a amplitude de um comércio, responsável pela migração residencial que abrigou homens e mulheres que se apaixonaram, que formaram famílias e que foram expulsas pelo burburinho dos carros, carroças e caminhões. Pelo solo ocupado, por barracas desordenadas e milhares de passantes no indo e vindo sem rumo certo, em busca da chita e do equipamento eletrônico importado, que aliena e massifica a turba ignara, que não versifica, que não rima, e não canta as nossas musas, porque vão perdidos, entre tantos desencontrados.

          Avenida de Becos transversais que abrigaram famílias e bordéis, oficinas e bares, abrigos da boemia.

 Avenida da travessa do ABC, do Beco do França, do Beco do Ginásio, do Pilão Sem Tampa, do Maternal Bebê Conforto, da saudosa Pró Izabel, que confortavelmente abrigou o meu bebê, que se fez adulta e que se fez mulher bela e competente para a lida e para a vida.

 Avenida que se perdeu no progresso dos homens e na decadência urbanística e humanística, que o presente esqueceu e o futuro consagrou como o último reduto de famílias que se foram, mas, vive nas páginas da nossa História.

 

Feira de Santana, 17 de agosto de 2018.

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