PRIMEIRO
DE ABRIL
Rua
Ferreira Viana, nº 56, bairro do Flamengo, Rio de Janeiro, Estado da Guanabara,
Brasil, 1º de abril de 1964, madrugada. Acordei com os aparelhos de rádio dos
vizinhos ligados, ouvindo-se em bom som apelos de Abelardo Jurema, Ministro do
Governo de João Goulart - Presidente da República Federativa do Brasil,
conclamando as forças regulares, nacionalistas e devidamente constituídas, para
se reunirem em resistência contra um Golpe de Estado que se deflagrava
comandado pela Embaixada dos Estados Unidos da América do Norte, enquanto
navios de guerra daquele país aportavam próximo à Costa da Bahia da Guanabara.
Carlos
Lacerda, outrora comunista, agora americanófilo, pretendendo assumir o governo
da república, uma vez que não conseguira pelos meios democráticos, articulava
também o golpe e pateticamente, abrigava-se no Palácio das Laranjeiras, com
caminhões da limpeza pública, com alguns correligionários armados de
revolveres, espingardas e fuzis velhos da polícia local, dizendo-se cavaleiro
da salvação nacional contra os monstros do comunismo. Diziam que os comunistas
eram hereges comedores de crianças. Era o primeiro de abril, que se saberia -
peça trágico-cômica pregada aos brasileiros que foram dominados durante vinte
anos.
Muitos
morreram em nome da “democracia”, nos porões da ditadura, outros jogados ao
mar, outros refugiados em diversos lugares, inclusive em outros países e muitos
ideais sepultados.
Destituíram
em nome da falsa democracia, governo legítimo, constitucionalmente constituído
e diversos oportunistas enriqueceram, à custa da miséria de um povo vencido,
desprotegido e desarmado.
A
minha carreira dupla de artista e professor foi castrada, pelas perseguições
infundadas.
Carlos
Lacerda, após a concretização do golpe, dirigiu-se à residência do então
General Humberto de Alencar Castelo Branco, no bairro Peixoto, na esperança de
que fosse ele Carlos o escolhido para governar o país. - Ledo engano. O Gal.
gostou da idéia de lhe convidarem para assumir a chefia da Nação, aceitou,
tornando-se Marechal e primeiro Presidente da República nomeado pelo regime
militar, concedendo provisoriamente a direção do recém criado Banco Nacional da
Habitação para a sua afilhada - Sandra Cavalcante. Pouco tempo depois cassaram
Carlos Lacerda, após haverem cassado João Goulart, Juscelino Kubitschek, Miguel
Arraes, Leonel Brizola e outros que tiveram asilo em países vizinhos e na
Europa, sendo assassinados os três primeiros.
O
meu sonho de juventude de viver num país alegre, independente, eminentemente
nacionalista, com rumos próprios, foi sepultado, não no Cemitério São João
Batista ou na Pavuna, mas no sepulcro das idéias.
Pelo
que se sabe e a história relata, foram eliminados de forma misteriosa - João
Goulart, Juscelino Kubitschek, Castelo Branco, Costa e Silva e posteriormente
Carlos Lacerda, uns por não concordarem com a cartilha da subserviência, outros
porque as pantomimas são afastadas quando perdem a serventia. Todos - vítimas
dos interesses econômicos escusos do imperialismo monstruoso que domina o mundo
ocidental.
Naquele
primeiro de abril, pregou-se a mentira mais dolorosa que já se assistiu no
Brasil.
MORAL:
Triste é o povo que não comemora o dia
da razão e vive eternamente num primeiro de abril, vítima da sua própria
ignorância.
Itaparica, 23.01.2004.
Estudante Edson Luis, morto pelos
militares, no Restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro em 1968. Ano em que
deixei tudo para traz.
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