quarta-feira, 4 de abril de 2018

PRIMEIRO DE ABRIL DE 1964 - O DIA QUE O BRASIL CAPITULOU




PRIMEIRO DE ABRIL

            Rua Ferreira Viana, nº 56, bairro do Flamengo, Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, Brasil, 1º de abril de 1964, madrugada. Acordei com os aparelhos de rádio dos vizinhos ligados, ouvindo-se em bom som apelos de Abelardo Jurema, Ministro do Governo de João Goulart - Presidente da República Federativa do Brasil, conclamando as forças regulares, nacionalistas e devidamente constituídas, para se reunirem em resistência contra um Golpe de Estado que se deflagrava comandado pela Embaixada dos Estados Unidos da América do Norte, enquanto navios de guerra daquele país aportavam próximo à Costa da Bahia da Guanabara.
            Carlos Lacerda, outrora comunista, agora americanófilo, pretendendo assumir o governo da república, uma vez que não conseguira pelos meios democráticos, articulava também o golpe e pateticamente, abrigava-se no Palácio das Laranjeiras, com caminhões da limpeza pública, com alguns correligionários armados de revolveres, espingardas e fuzis velhos da polícia local, dizendo-se cavaleiro da salvação nacional contra os monstros do comunismo. Diziam que os comunistas eram hereges comedores de crianças. Era o primeiro de abril, que se saberia - peça trágico-cômica pregada aos brasileiros que foram dominados durante vinte anos.
            Muitos morreram em nome da “democracia”, nos porões da ditadura, outros jogados ao mar, outros refugiados em diversos lugares, inclusive em outros países e muitos ideais sepultados.
            Destituíram em nome da falsa democracia, governo legítimo, constitucionalmente constituído e diversos oportunistas enriqueceram, à custa da miséria de um povo vencido, desprotegido e desarmado.
            A minha carreira dupla de artista e professor foi castrada, pelas perseguições infundadas.
            Carlos Lacerda, após a concretização do golpe, dirigiu-se à residência do então General Humberto de Alencar Castelo Branco, no bairro Peixoto, na esperança de que fosse ele Carlos o escolhido para governar o país. - Ledo engano. O Gal. gostou da idéia de lhe convidarem para assumir a chefia da Nação, aceitou, tornando-se Marechal e primeiro Presidente da República nomeado pelo regime militar, concedendo provisoriamente a direção do recém criado Banco Nacional da Habitação para a sua afilhada - Sandra Cavalcante. Pouco tempo depois cassaram Carlos Lacerda, após haverem cassado João Goulart, Juscelino Kubitschek, Miguel Arraes, Leonel Brizola e outros que tiveram asilo em países vizinhos e na Europa, sendo assassinados os três primeiros.
            O meu sonho de juventude de viver num país alegre, independente, eminentemente nacionalista, com rumos próprios, foi sepultado, não no Cemitério São João Batista ou na Pavuna, mas no sepulcro das idéias.
            Pelo que se sabe e a história relata, foram eliminados de forma misteriosa - João Goulart, Juscelino Kubitschek, Castelo Branco, Costa e Silva e posteriormente Carlos Lacerda, uns por não concordarem com a cartilha da subserviência, outros porque as pantomimas são afastadas quando perdem a serventia. Todos - vítimas dos interesses econômicos escusos do imperialismo monstruoso que domina o mundo ocidental.
            Naquele primeiro de abril, pregou-se a mentira mais dolorosa que já se assistiu no Brasil.

MORAL: Triste é o povo que não comemora o dia da razão e vive eternamente num primeiro de abril, vítima da sua própria ignorância.

Itaparica, 23.01.2004.

Edson Luiz
Estudante Edson Luis, morto pelos militares, no Restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro em 1968. Ano em que deixei tudo para traz.