Venho de um lugar
Não muito distante,
Onde existiam flores,
Pássaros sonoros
E gazelas coloridas,
De mato verde,
Por onde caminhavam homens,
Mulheres e crianças,
Sem susto e sem medo,
Tangendo ovelhas e cabras,
Porque o dia era claro
E a noite enluarada,
Com estrelas brilhantes,
Como pingos de luz,
No firmamento infinito,
Sem astrologia, sem questionamento,
Porque bastavam as explicações bíblicas,
Com origens divinas,
E assim bastava.
Venho de caminhadas firmes,
De cabeça erguida,
Por onde a vergonha não se envergonha
De ser honesta,
Para esconder suas razões,
Seus gestos e sua conduta,
Porque não há o que esconder
E não há do que se envergonhar.
Venho de jardins de flores coloridas,
De amores perdidos,
Que inspirou o luso
Em Amores de Perdição,
Que não passaram pelo inferno dantesco,
Nem pelo inverso travesso
Dos descompromissados
Com a liberdade de ir e vir,
Com sorrisos largos,
Sem choro e nem vela,
Mas com uma fita amarela
Inscrita com o nome dela,
Da amada de muitas poesias,
Sambas e canções
De uma noite de verão.
Venho da praça do povo,
Com as manifestações,
Pacíficas e alegres
Como se estivesse em festa
De irmandades platônicas,
Sem compromisso com a religiosidade,
Porque a fé emana do ser pelo ser,
Sem misticismo, sem temor,
Porque os deuses se despiram
Da subordinação temente,
Pregada pelos falsos profetas,
Que se locupletam em dízimos
Obrigatórios para a pregação da fé.
A minha praça
É a das retretas, dos dobrados,
Tocados por filarmônicas
Formadas de instrumentos vários,
Harmonizados em notas naturais,
Sustenidos, bemol e semitons,
De beleza inconteste,
Permitindo aos homens e mulheres
Se perderem e se encontrarem
Em abraços amorosos
E de amizades platônicas,
Que não se misturam
Com a falsidade e os interesses
Financeiros e econômicos
Dos pragmáticos senhores e senhoras.
Venho de um silêncio consentido,
Porque tinha-se mais que ouvir
Do que falar.
Venho de outras eras,
Das moneras
E entranhas amorosas,
Por onde passeiam os poetas,
Em versos rimados ou sem rimas,
Mas que expressam os sentimentos
Doridos de almas apaixonadas,
Em suas imaginações,
De sonhos sonhados
E versificados para a eternidade.
Venho de canções melodiosas
Cantadas pelas madrugadas,
Com os cabelos orvalhados,
De mãos limpas
A segurar o pinho sonoro,
Aviolado de cordas vibrantes,
Dedilhadas, para a canção,
Cantada, para os ouvidos
Adormecidos da donzela
Que ressurge em sua alcova,
De cetim, com os cabelos alvoroçados,
Mas, belos, negros, aveludados,
Para a carícia ou o cafuné.
Venho... E vou indo – para o nada.
Feira de Santana, 10 de setembro de 2016.
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