domingo, 19 de julho de 2015
"UM PEQUENO COMENTÁRIO SOBRE A MPB E A “BOSSA NOVA”
Cheguei ao Rio de Janeiro em abril de 1961, saindo de Feira de Santana-Ba., para uma excursão em algumas cidades baianas com um Grupo Musical, interpretando o repertório da MPB estilo romântico. Em Jequié-Bahia, decidimos – vamos para o Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, é o nosso destino artístico. Não tínhamos qualquer notícia de movimento de Bossa Nova. Fui eu, - cantor e violonista, Carlos Santiago – cantor e Silvio Moreno – exímio violonista. Vinte dias depois de me apresentar no Dancing Avenida, levado por Jamelão, eu era contratado pela Boate – Claudiu´s Bar, na Galeria Ritz, em Copacabana. Ali se apresentavam Arlindo Borges e José Evandro – ambos saídos dos Vocalistas Tropicais. Tive oportunidade de vivenciar a noite carioca em toda a sua plenitude, conhecer dezenas de artistas consagrados e posso dizer que não havia qualquer movimentação de Bossa Nova. No Beco das Garrafas havia grandes Shows com Johnny Alf e Leni Andrade que cantavam Bossa sem menção do nome Bossa Nova. Era um estilo que misturava Jazz com arranjos dissonantes, incluindo na turma Luizinho Eça, Bossa Trio, Zimbo Trio, Lucio Alves e outros poucos. Havia na Zona Sul uma predominância da musica romântica, dor de cotovelo. O cantor tinha que ter voz e interpretação de qualidade, e todos eram submetidos a testes de avaliação para serem contratados. Cantei na Rua Fernando Mendes no Bar Michel e no Le Rond Point, enquanto Altemar Dutra fazia os intervalos de Helena de Lima no Cangaceiro, com Rildo Hora e Conjunto. Era Grande o Show. Casa Cheia. Anos depois, acredito em 1964 mais ou menos fundaram a Boate Zum Zum (Aloísio de Oliveira) na Rua Barata Ribeiro, único reduto do movimento que passava a ser conhecido por – Bossa Nova, encabeçado por Vinícius de Morais e Baden Pawel, depois Oscar Castro Neves, Quarteto em Cy e mais adiante Toquinho. O espaço para esta turma era pequeno. Lembro-me quando Vinicius num momento raro de infelicidade disse – eles é que têm que vir a nós, - referindo-se ao público. Não conseguiram porque era um movimento elitista, diminuto de “filhinhos de papai de família nobre da Zona Sul, a maioria de Ipanema - Americanófilos. Não resta dúvida que surgiram grandes nomes como – João Gilberto, Tom Jobim, Baden, Toquinho, Sergio Mendes, Menescal, Bôscoli, e Vinicius que era o pai de todos eles. Cantei muitas vezes na Boate Plaza – quarta feira – Clube do Disco e quinta feira – Clube do Cinema. Das quarenta e quatro (44) casas noturnas em Copacabana mencionadas no Livro “Chega de Saudade” de Ruy Castro”, nenhuma apresentava Bossa Nova, pelo menos nos anos 60. Sou testemunha viva. Ele inclusive omite a única Boate com este estilo de música que era - Zum Zum. Aliás, ele omite o Bar Michel na Fernando Mendes e localiza equivocadamente o Rond Point que era na esquina com N.S. de Copacabana colocando-o no meio da Rua Fernando Mendes. Carlinhos Lira e Marcos Vale são compositores e nunca foram cantores. O pior é que pensam que são. Miéle cantor?... – é uma piada. É preciso reescrever a história da musica popular brasileira, dimensionando o que é bom e o que é ruim, destacando os verdadeiros músicos, compositores, cantores, não se podendo olvidar – Ari Barroso, Pixinguinha, João de Barro – o Braguinha, Lupicinio Rodrigues, Cartola, Nelson Cavaquinho, Jacó do Bandolim, Valdir Azevedo, Dilermando Reis, Silvio Caldas, Orestes Barbosa, Orlando Silva – o Cantor das Multidões, Nelson Gonçalves, para falar de alguns ícones da MPB, sem contar com centenas de artistas que passaram pelas noites cariocas e paulistas com influência para todo o Brasil. Não cometam o crime de colocar como divisor de águas um estilo musical de influencia alienígena, principalmente americana do norte que tem sido a grande desgraça em nossa cultura.
Este é um pequeno comentário e uma contribuição, espero, para aqueles que pretendem e escrevem a história de nossa musica.
Milton Brito – cantor, compositor, poeta, escritor, musico com várias publicações e gravações, e desde a década de 80 - advogado de profissão, bem sucedido em sua formação.
Maio de 2010.
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