Copacabana, território livre da zona sul do Rio de Janeiro, terra de todos os acontecimentos, do normal ao absurdo, onde se encontram mansões, prédios simples e suntuosos, dentre eles o edifício 200 da rua Barata Ribeiro, Galeria Ritz e Galeria Alasca, pontos de muitos segredos. No edifício 200 havia múltiplos moradores, dentre os quais, mulheres lindas vindas de alhures, dispostas a sobreviverem num “mundo cão” com a possibilidade do sucesso nos palcos encantados da arte cênica. Ali, pela noite e pela madrugada se algum homem gritava - “joga a chave meu amor”, corria o risco de ser enterrado vivo por um monte de chaves caídas das janelas. Na galeria Alasca bares e boates se revezavam entre o lanche, o jantar, boas bebidas, numa freqüência mista de homens, mulheres e homossexuais que se amavam ou se buscavam. Na Galeria Ritz, lojas variadas de produtos de consumo se revezavam nas vendas diurnas e à noite o obscuro mundo da noite musicada de curtições e encontros amorosos. Ali, lá no fundo, haviam duas boates denominadas de inferninho com o nome da fantasia – Claudiu’s Bar e L’Etoile, uma ao lado da outra com freqüências variadas entre o romântico e a promiscuidade. Na primeira, homens, mulheres e etc... se amavam, bebiam o bom “Campare”, o bom “Black Label” e ouviam a boa musica interpretada por três Cantores que se revezavam, sob o olhar de tortuosas e desejadas vedetes de corpos esculturais que também e principalmente iam ao L’Etoile. Numa noite de muita bebida e romantismo apaixonado, depara-se Fernando com duas deslumbrantes musas do teatro rebolado de contornos invejáveis, motivo suficiente para a aproximação do galanteador que esperava flutuar nas nuvens de prazer entre uma ou outra. Ao final da noite, ainda pela madrugada, furam todos juntos para um apartamento de amigos, onde se daria conversas e encontros amorosos. Na expectativa, Fernando pensou – “não resta a menor duvida que vou me dar bem!...”. Laura era a mais desejada, de quem gozou de alguns adocicados beijos o nosso galã e de quem esperava retribuição no leito quente e aconchegante de um quarto de apartamento da zona sul. De repente saem as duas lindas mulheres, sobem as escadas do apartamento e desaparecem das vistas dos presentes por algumas horas. Aflito, não vendo a hora do deleite, Fernando sobe as escadas e vai até o close na parte de cima do ap. e não encontra ninguém, ouvindo um som de aflição de quem se ama com gosto e ansiedade. Não se contem e olha pelo buraco da fechadura do quarto e se surpreende com as duas belas vedetes nuas se enrolando numa manhã de estranhos encontros. Frustrado, desce e vai embora. Dias depois, encontra-se com Vivian, uma das apetitosas vedetes e curiosamente pergunta-lhe o porquê da escolha, quando ele se encontrava sedento de prazer, capaz de lhe fazer muitos carinhos felicitando-a. E a resposta vem com simplicidade – sou moça jovem, bela, vivendo do que levo ao palco que é meu corpo bem detalhado e apreciado. Com você corro o risco de engravidar, deformar o meu instrumento de trabalho, enquanto, ao contrário, com a minha companheira vibro e permaneço bela em minha forma de mulher a exibir o que os homens tanto desejam. O L’Etoile é o espaço onde nos encontramos nas noites, após o trabalho, freqüência maior das que pensam como eu ou que se desvirtuam pelo prazer de fazer diferente, disse-lhe Vivian. Desconsolado partiu Fernando, sem entender as opções humanas. Não podendo mudar o circo dos absurdos ou dos desejos, restou-lhe o encontro com as inocentes jovens do subúrbio onde a degeneração ainda se mantinha distante, contraindo matrimônio, seguindo a regra bíblica do crescei e multiplicai-vos.
Rio de Janeiro, janeiro de 1962.
MORAL: “SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO”. (SHAKESPEARE).