sexta-feira, 26 de junho de 2009

O Incesto da Princesa

Era um menino levado que morava na Rua de Aurora, filho legítimo da Princesa. Como toda criança nascida em ambiente familiar foi amado, cuidado, e teve amigos, namorou, jogou bola, empinou arraia, brincou de picula e algumas vezes defendendo o seu território trocando tapas. Por ter vivido ali naquele logradouro foi cognominado Tasso de Aurora. No mês de janeiro ia para a Praça da Matriz para participar dos festejos de Nossa Senhora Santana e circulando o Coreto paquerava as moças bonitas, freqüentava as quermesses e algumas vezes usando o serviço de Alto-Falante dedicava musicas para as suas pretendentes, onde se ouvia versos cantados pelos cantores da época – “Bate outra vez, com esperanças o meu coração, pois já vai terminando o verão em mim...” (Mestre Cartola). Não descuidou dos estudos, foi persistente, embora não lhe favorecesse a riqueza e se fez médico, dedicado à profissão a assistir os mais desvalidos, o que fazia com uma freqüência incalculável, salvando inúmeras vidas. Um dia, convocado para servir à Nobre Senhora, aceitou e se fez edil, legislou, apoiou e combateu governos, ganhando notoriedade. Tentou o matrimonio com a Princesa e foi preterido. Não desistiu. Foi ao Parlamento em outras plagas, popularizou-se, insistindo com o enlace matrimonial. Agora era combatido pelos múltiplos pretendentes, incluindo a Corte com os seus ministros. Nada impediu que aquele menino humilde que cresceu na combatividade da adversidade fosse em frente. Constataram que não havia resistência que pudesse frenar a pretensão de Tasso de Aurora, agora Cavaleiro destemido. Vendo a grandeza de seu filho a Princesa se encantou concedendo-lhe a oportunidade tão esperada. Vinha de um casamento bem sucedido, mas por norma estabelecida tinha que contrair novas núpcias. Era o destino da nobre senhora, que recebeu o apoio do divorciando e de seus pares, propiciando múltiplos acordos. Veio a época da disputa. Assim era a regra e se apresentaram diversos candidatos. Embates, debates, promessas de bom plantio e rica colheita, todos se propunham ao melhor, ouvindo-se todos os filhos da Princesa que teriam que dar o aval através do sufrágio. Venceu Tasso que de Aurora passou a se chamar “Tasso da Princesa”. Compõe-se um novo governo, com velhos e novos ministros que se empenham na amplitude do Principado, sob o comando daquele que soube com grandeza de espírito conquistar a sua glória de bem servir. Um só compromisso lhe é permitido – promover o bem estar de todos. Que assim seja.
Texto escrito em Maio de 2009 e publicado no jornal Noite e Dia, Feira de Santana, em 26 de Junho de 2009.

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