sábado, 21 de setembro de 2013
ALBERTO – O AVENTUREIRO
Baiano de nascimento, nordestino da gema, o sonho de Betinho era chegar ao Rio de Janeiro, Cidade dos sonhos, ilusões e desilusões. Imaginando-se nos salões do Cassino da Urca, nos Bailes do Hotel Quitandinha, nos desfiles do Teatro Municipal, vislumbrando as curvas das lindas vedetes, como Virginia Lane, e os sons das Orquestras maravilhosas regidas pelos grandes maestros – Guio de Moraes, Pernambuco, Vicente de Paiva, Calos Machado e outros, tendo à frente vozes como as de Francisco Alves, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Dick Farney, Linda e Dircinha Batista, Carmem Miranda, Emilinha Borba, Marlene e tantos outros, embarcou na Marinete que saia do Retiro e desembarcou na Praça Mauá, centro da Cidade Maravilhosa. A viagem durou dois dias. Chegou todo empoeirado e com o pouco dinheiro que levou para as primeiras despesas, até conseguir um emprego, se hospedou em uma Pensão, na Rua do Acre, de onde pretendia sair para início de suas aventuras. Não conhecia ninguém na terra do samba, nem mesmo tinha qualquer referência que lhe pudesse orientar na arte da sobrevivência. Não tinha profissão definida, nem formação universitária, tendo, apenas, concluído o segundo grau na escola pública, em um Bairro distante do subúrbio de Salvador. Ensinaram-lhe, na pensão, que a maneira pela qual ele poderia conseguir um emprego, seria comprando o Jornal de Brasil, que tinha uma seção de anúncios de empregos. Pela manhã, logo cedo, adquiriu o jornal, sentou-se na Cinelândia, após tomar um “pingado” (copo de café com leite) acompanhado de um pão com manteiga, portando uma caneta, foi marcando os possíveis empregos que poderia assumir e foi à luta. Depois de atender aos diversos anúncios, sem êxito, porque lhe exigiam experiência, que não possuía, aceitou vender livros de literatura, o que iria fazer de porta em porta. Iria passar por um período de experiência, durante três meses. Se aprovado, teria sua carteira assinada, com salário mínimo e uma comissão de dois por cento sobre as vendas. Deram-lhe algumas coleções de diversos autores, dentre eles, Monteiro Lobato, La Fontaine, Esopo, Irmãos Grins e Alexandre Dumas. A cada porta que batia recebia um “não interessa”, “não compro livros”, “a patroa não está em casa”, isto quando não recebia a porta batida na cara. Não se desanimou no primeiro mês, conseguindo negociar duas coleções, que lhe renderam em comissão o suficiente para pagar alguns dias da Pensão. Alberto, apelidado Betinho, insistiu, até que, em Copacabana, Bairro das noites boêmias cariocas, reduto da classe média alta, que abriga artistas, políticos bem sucedidos, financeiramente, belas vedetes em ascensão e outras decadentes, sustentadas por ricos senhores, enfim, Betinho, encontrou Margot, residente em um apartamento duplex, na Avenida Atlântica, no Bairro de Copacabana. Mulher de seus cinquenta anos, bem conservada fisicamente, amante de um Senador da República natural do Maranhão, que lhe dava uma pensão alimentícia voluntária de alguns milhares de cruzeiros, pelas visitas amorosas que fazia de quando em vez, Margot, sedenta de amor, viu em Betinho o cafetão perfeito – homem jovem, bonito, em pleno vigor físico, sem compromisso, desabrigado e aventureiro. Propôs-lhe o romance e ele aceitou, dando pulos de felicidade enquanto descia pelo elevador, após deixar o apartamento daquele anjo que caiu do céu. Ficou acertado que durante a semana o novo casal se encontraria no apartamento, se acautelando da visita do parlamentar, que era sempre anunciada com antecedência. Com o decorrer do tempo, para quebrar a monotonia do lar e o excesso de tardes e noites de amor, saiam pelos Bares, Boates e Cassinos, consumindo as melhores bebidas e deliciosas comidas. Betinho deixara o emprego de vendedor de livros e conseguiu um contrato de trabalho como Garçom em um Dancing, por indicação de uma amiga de sua amada, que não percebeu o risco de ser preterida por outras mulheres mais jovens e sedutoras. A primeira da fila foi Dalri, uma morena deslumbrante, de corpo escultural, amiga de Margot, que incentivara o tal emprego. Tudo às escondidas. Alberto, em seu trabalho, impecavelmente bem trajado, falante, simpático começou a ser paquerado por mulheres, homossexuais, bissexuais e até por homens casados que tinham o prazer de dividir a relação sexual com sua mulher e outro, quando não era em grupo. Betinho se empolgou com as conquistas e se imiscuiu de tal forma, que Margot já não suportava a sua presença, rompendo o seu romance, que não durou o curso de um ano. Betinho teve que deixar o apartamento à beira mar, indo morar com um amigo solteiro, que conheceu, sendo este alto funcionário da república, que residia na Vieira Souto, no Bairro de Ipanema. Era uma “amizade colorida”, sustentada pelo servidor público, que não poupava recursos financeiros para manter o laço de amizade entre os dois. Um belo dia, cansado daquele relacionamento, Betinho aproveitou a ausência do companheiro e fez a sua mudança levando consigo muitos o
bjetos do amante, tendo que ir para São Paulo, em busca de novas aventuras, fugindo da possibilidade de acertar as contas com a polícia. Na Paulicéia, enfrentou novos horizontes, envolvendo-se com o pessoal de teatro, levando-o a um curso de representação teatral, chegando a se apaixonar pela profissão, trabalhando como figurante, inicialmente, e após dois anos de muita dedicação, conseguiu a oportunidade de representar a peça “As Mãos De Eurídice”, um monólogo, de autoria de Pedro Bloch, (O título se refere às mãos da amante, Eurídice, hábeis na banca do cassino onde Gumercindo Tavares perde sua fortuna). Um ano depois, representa o “Monólogo das Mãos” de Giuseppe Ghiaroni. Deprime-se com a interpretação. Vê ali o que se fez com as próprias mãos. A esta altura dos acontecimentos, Betinho já estava com quarenta e cinco anos, e, embora prematuramente, cansado das aventuras, sem constituir uma família e um ambiente sólido, residindo em um “kitinete” na Rua Augusta, sem motivação para continuar vivendo, joga-se do décimo quinto andar do prédio e termina a sua vida de aventuras.
Feira, 01.07.2013.
domingo, 15 de setembro de 2013
CLERICAL OPUS 1
Oh Maria
Concebida com pecado
Vinde a mim
Numa ascensão erótica
Rogai por nossos holocaustos
Amorosos
Bendita seja a hora
Universal
Do nosso beijo
Deixai à mostra
As puras carnes brancas
Que vos contornam
Na afirmação do belo
Iluminai o leito
Com este vosso olhar
Fala-me de tudo
Que vos diz respeito
E encosta junto à mim
A vossa mão bendita
Deixando-me silente
Em meditação
Que seja a vossa ausência
Todo o meu martírio
E os versos que vos lego
A nossa oração
E no momento tremulo
Do vosso prazer
Não me deixeis cair
Em letargia
Livrai-me do mal
De não vos ter
Amem.
Rio de Janeiro, 1968.
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